Houve um tempo no qual os homens tinham bandeiras e elas não estavam pautadas apenas em símbolos ou cores. Faziam parte do coração e eram inegociáveis porque representavam pontos de vista que não tinham preço. Nesse tempo, as igrejas eram só igrejas e os partidos eram para a reivindicação das necessidades dos homens. A fidelidade, portanto, não era apenas partidária, era ideológica e, às vezes, para a vida inteira.
Entretanto, algum pretenso soberano reinventou a palavra governabilidade e misturou as bandeiras a tal ponto que hoje o homem já não se reconhece em sigla alguma. Em nenhum momento o impostor ideológico se importou se estava despersonificando a democracia, se estava abolindo a palavra cidadania e até mesmo o vocábulo partido. E tudo isso vem impulsionando a letargia nas pessoas, embora estejam sendo cada vez mais aviltadas pelos impostos e pela destruição dos seus direitos essenciais. E os Partidos de Aluguel, hoje, renomeados como Partidos Agregados, alimentam a ideia de que vence as eleições quem tiver o maior número de canalhas habilidosos por perto. Patético! Grandes líderes não têm o direito de barganhar a alma de um povo. Aliás, alguém assim, não deveria merecer voto nem mesmo para líder de condomínio. Além disso, estamos ensinando a nossas crianças que a democracia depende da deturpação do significado das palavras. Chantagem e barganha de poder virou governabilidade. É como o repartir de um bolo que ainda não foi feito. E se não existir partilha há retaliações, independentemente do preço pago pelo eleitor. E o pior é que por trás de vários segmentos há, geralmente, uma empreiteira, um bicheiro, uma igreja, um sindicato ou um outro lacaio qualquer.
Mas a criatividade daqueles que lutam pelo comando das aldeias é sem fim. Agora, pelo menos na nossa região, virou uma espécie de guerra dos sexos. Perceba, caro (e) leitor, que as cinco principais chapas que disputarão as próximas eleições, talvez por mera coincidência estatística, têm uma dupla de um homem e uma mulher. É inacreditável que menosprezem o eleitor a este ponto! É como se dissessem que a simples contemplação dos dois sexos na chapa garantisse a confiança da população, independentemente do ideário que arrastem.
Quanto às igrejas, algumas composições também demonstram a prática da junção de católicos e evangélicos à caça dos votos das ovelhas. A impressão que fica é que há fiéis servindo de massa de manobra para alavancar novos alcaides aos mesmos velhos tronos.
E o que seria hoje, dentro deste esdrúxulo quadro de esvaziamento ideológico, a infidelidade partidária, já que as coligações, geralmente, são determinadas por gigantescos mandatários das siglas? Quantos políticos, talvez até com boas intenções, foram banidos das disputas eleitorais por discordarem ou apenas por serem vítimas destas bizarras manobras que impedem cada vez mais que se separe o joio do trigo? E quem é que vai pagar por isso? É claro que é o eleitor que na melhor das opções, por não ter opção nenhuma, acabará ratificando com o seu voto obrigatório, um pouco mais do mesmo.
Paulo Franco
Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº 07 – Julho/2012