DO OUTRO LADO DO OUTRO
(2007)


Espaço Editorial

 

 

 

 

“Fingidor me entrego neste riso

e afago a dor,

que disfarçada,

se transforma em guizo.”

 

 

AS VOZES E A VOZ DE PAULO FRANCO

 

 “Ideias verdes incolores dormem

 furiosamente”.

Noam Chomsky

 

    Em Do Outro Lado do Outro, sua quarta obra poética, Paulo Franco envereda-se por um caminho cujo horizonte avista-se através da busca pela evolução de sua performance.

     Notas das Horas, de 1995, apresenta o aflorar de um estilo inconfundível, reproduzido também em Pétalas de Insônia, de 1999. Naqueles, o eu lírico divide-se em duas vozes: a primeira evoca um mundo injusto, selvagem e inviável, a realidade se sobrepõe à construção de seus  versos, entretanto afirma-se o caráter efêmero daquilo que se condena. O real é “ um cimento magro de um silêncio mágico”; a segunda voz possui um caráter transcendental, o eterno desajuste à condição existencial, tempo e vida se digladiam numa arena rítmica e semântica, onde os versos decepam qualquer instinto de passividade diante da existência. 

   Paisagens do Olhar, de 2001, aparece com uma proposta diferenciada, as duas vozes se fundem, cessa-se, aparentemente, a batalha, mas a linguagem inusitada nos faz ter a impressão de que a qualquer momento aqueles versos irão se romper por conta da tensão de suas imagens e divagações. Mais do que nunca, a poesia de Franco nos impede de exercitar, a todo o instante, um aliviado respiro metafísico.

     Nas estrofes deste Do Outro Lado do Outro ecoam os temas tão abordados por Franco nas demais obras. Ainda há “uma ideologia involuntária”, há o inconformismo com o envelhecer inerente ao tempo, há o conflito entre as relações com o que é material, mas, novamente, inova-se o carpintar de seus versos.

     Poemas como Cristaleira, O GariO Mar Estação são grandes amostras desta inovação, da “busca incansável” pela forma perfeita. Esta nova forma cultiva momentos que representam uma pausa para a candura. Deixa-se de lado aquele aspecto incisivo do impacto, eficiente em revelar uma condição tão caótica em que se encontram os indivíduos. Agora, os versos são organizados como resposta a este caos e, finalmente, o lirismo de Franco é uma harmonia entre imagem, ritmo, distopia e utopia. Há até o espaço  para o riso, como se vê nas últimas estrofes de Fumaça. E qual leitor atento ao mistério do fazer a poesia não verterá uma dose de emoção qualquer após a leitura d’O Mito

     No entanto, Franco não busca apenas o novo, nos faz também dialogar com o “velho”. É o caso do poema A Mariposa, que se apresenta como um outro ponto de vista d’O Colecionador de Coisas, do livro de 95. O eu-lírico deixa de se colocar como personagem central, o que reproduz uma leveza a qual o poema anterior não possuía. Outra explicitação desse diálogo é O Crack, de 01reesculpido. Ele nos revela a real intenção do poeta: a síntese, a condensação, o abandono da estrofe didática, não há mais a concessão ao leitor. Este que se deixe levar ao infinito através da justaposição das imagens aqui construídas. Uma forma de combater uma sociedade onde a alienação e o automatismo são a lei vigente. Não basta o leitor estar apenas ao lado dos indivíduos, é necessário conhecer o outro lado destes, e a poesia de Franco atenta-se para isso, buscando o outro lado de sua poética antiga, pois não é suficiente apenas o seu conhecimento, o verso decorado, alienante, é preciso continuar “restaurando um outro verso/ para a mesma poesia”.

     Desenha-se, então, o horizonte da poesia de Franco, que se encaminha para a pura metáfora, porém sem ser a metáfora simplesmente pura, não são traços de “metáforas involuntárias”, como ele quer que acreditemos. Todos os seus elementos estão voltados para a reorganização de tudo aquilo que se construiu, “os restos dos sentidos que ensinaram”, para nos ensinar a rever nossos olhares, aprimorá-los para que se construam outros sentidos. Entretanto, para ensinar é preciso também aprender e o aprendizado de Franco foi a necessidade de reconstrução da sua poética. Nunca foi tão necessário dizer o mesmo, mas repetir-se é ficar vagando pelos cantos escuros da História. A solução encontrada pelo poeta foi fazer de sua poesia o seu próprio movimento, sua própria ciência e este se mover, esta investigação com o intuito de encontrar a forma perfeita inefável faz do seu lirismo algo original e profundo que contrasta com uma vasta produção nacional comprometida apenas com pirotecnias e aliterações de assonâncias fugazes, incapazes de elevar o ser humano a um patamar de reflexão e insubordinação a este status quo.

     A poesia deste livro liberta libertando-se das teias as quais estava presa. Desta liberdade, nasce, portanto, uma nova voz a acrescentar, às demais vozes, como diz o poeta n’O Gari, um canto que restaure o encanto de um mundo tão desencantado.

 

Reinaldo Melo é poeta, contista

e mestrando em Literatura

pela Puc-SP

 

ALÉM DAS CERCAS DO QUINTAL

 

Falta coragem para ir à janela

e libertar os sonhos

que se entulham nos valores

que deprimem nossa cela.

 

Falta coragem pra se amar

como se ama quem nos ama a sós.

Aquele amor libertinado, de prazer de antes,

de prazer de meio e eternizado após.

 

Falta coragem para o sim

quando se emprega o não,

impregnado de amarras que deprimem

a liberdade que alimenta o coração.

 

Falta coragem para o não

quando se acata o sim à revelia da vontade,

em cumprimento ao estabelecido

que deturpa a nossa verdade.

 

Falta coragem pra mudar de rumo

ainda que preciso fosse a marcha à ré,

para que a vida seja, tão somente,

a plenitude que ela já é.

 

Falta coragem pra beijar na boca,

pro abraço e pra revolução,

mesmo que revolucionariamente

a gente só liberte a nossa emoção.

 

Falta coragem

pra quebrar as cercas deste mal

e ver o mundo além dos muros,

além dos horizontes do nosso quintal.

Páginas 13 e 14

 

A MARIPOSA 

 

A mariposa,

de vida breve,

pousa em minha sala

atormentada

pela luz da tela da TV

que me atormenta

reprisando o que não quero ver.

 

A mariposa

satiriza a minha pose,

as minhas posses

e minha fortaleza suja.

 

As minhas ambições,

a minha alma,

a minha vala,

a minha sala estática

de apática que é.

 

A mariposa,

de vida breve,

das minhas décadas

de vida afã,

ri.

 

Ala pela sala

e da janela

a liberdade ganha

a escapulir da minha cela

como quem tem pressa

porque ainda sonha. 

Páginas 15 e 16

 

AS COISAS  

 

Sobre os objetos

o olhar dos homens.

Sobre os homens

o ostentar dos objetos,

mais eternos, estáticos,

depositários do olhar das gerações.

 

A estante, a escrivaninha,

a penteadeira incômoda

observando o pentear

de quem se vai a cada instante.

 

O castiçal impávido

em um cômodo

do tempo

intacto.

 

Lá fora a tempestade,

abstrata

como o olhar

que observo

sobre as coisas. 

Página 17

 

ATESTADO DE ÓBITO

 

A gente morre um pouco

porque o cão de estimação

lambuza o nosso quintal,

porque queremos mais do que precisamos

e porque as folhas sujam

a sacada após o temporal.

 

A gente morre porque abusa,

por não ter o que fazer

ou por fazer o que não usa.

 

A gente morre pelo ato,

porque aperta o sapato,

porque queima a comida,

a gente morre por matar a vida.

 

Morremos porque amamos,

e em excesso nos escravizamos.

Morremos porque somos

vitimados pelas iras  que guardamos.

 

Morremos por falta de tempo

de ver o pôr-do-sol

e por falta de sol porque não temos tempo.

 

E ainda a gente morre

porque não suporta

da tv alienações

e porque eram falsos

os profetas das revoluções.

 

A gente morre de sim,

a gente morre de não,

a gente morre por não ver

o que alimenta o medo

em nossa emoção.

Páginas 18 e 19

 

A TRAMA 

 

Amotinada dorme a multidão.

No labirinto dos cortiços,

iludida, trama pelo pão

que falta.

 

Em cada olhar

a rebelião silenciosa

dos que não têm teto,

dos que tentam o sustento

insuficiente

para o filho rir.

 

Amotinado

em cada coração

o desespero

a germinar outros valores

para quem não vale nada.

 

Não há paz àqueles que não comem.

Quem nada tem

não tem

porque ceder às leis do homem.

 

E as crianças atentam contra a ordem

como lírios, que nas madrugadas,

indigentes nas calçadas,

dormem. 

Páginas 20 e 21

 

AUDIÊNCIA DE DOR 

 

Almas alam

a um além inesperado.

Murmuram sob os escombros,

inocentes,

de uma paz horrenda.

 

E no luto armado

de um extermínio ao vivo,

onde a morte, sem censura,

lidera uma audiência de dor,

clamamos.

 

O terror contagioso, irracional,

prolifera em nossos filhos

como um filme impróprio

de um horário nobre imoral.

 

Uma insônia se alicerça

entre os destroços.

É terrorismo a reprise deste mal

no caos de nossas ilusões.

 

As imagens nos instigam

à vingança

e sustentam o mercado

de uma parca lucidez.

 

A dor do outro é distante.

A nossa, uma ilha

de total insensatez.

Páginas 22 e 23

 

ÁVIDO

  

Devora-me

a sombra do ser

que segue o que sou.

 

Devora-me o que sou

na sombra do ser

que me segue.

 

Segue-me a sombra

do que sou

e me devora

o ser.

 

O ser que sou

devora-me

e sigo assim

a sombra

que me segue

ávida. 

Página 24

 

BOÇAL

 

Em meu quintal

aguardo pelo fim do mundo.

A vida, lenta,

entre as cercas, para,

ameaçada

na velocidade de cada segundo.

 

Um cara,

do outro lado do meu muro,

espia, curioso,

o meu olhar boçal.

 

Lá fora,

o mundo se debate,

agonizam alguns entes

tentativas de uma vida vã.

 

Em meu quintal,

detido em mim,

inutilizo minha caridade

admirada pela mão que assiste

o que concede o coração.

 

Os pedintes incomodam

minha aflição

com seus olhares que acusam

minha ideologia involuntária.

 

E meu olhar pedinte

o fim do mundo aguarda

em meu quintal boçal.

O fim do verso,

o fim do verbo,

o fim de quase tudo

que germina entre o bem e o mal.

Páginas 25 e 26

 

CACTO

 

Vejo o mundo

como um caminheiro

no deserto vê um cacto.

 

Vejo esgoto escorrendo

sob nuvens que passeiam

e pessoas rastejando feito ratos.

 

Vejo a flor

que brota desse esgoto

e a dor que, feito nuvem,

esgota a flor do rosto.

 

Vejo os restos

dos sentidos que ensinaram

se tornarem continência

e a flor secando pelo rosto

como um cacto

em redor da ausência. 

Página 27

 

CARTOMANTE

 

Em meu espelho

a sorte incendeia

a pulsação do meu olhar

metódico.

 

O dia impõe a inspiração

da vida.

Ações são decretadas

nas necessidades

da lida.

 

O instante imposto

contrasta-se à revelia

do nosso coração

vidente.

 

O futuro é a incógnita

da nossa evolução

pendente.

 

O coração

é a cartomante sensitiva

desta depressão fugaz.

 

O medo impede o passo.

Vislumbro no caminho

a escuridão tão violável

pela luz do sonho e passo.

 

Então recorro à cartomante

como quem se entrega

à embriaguez da inspiração:

 

– Quando somem meus desejos,

minha fé, minha ilusão…

estão perdidos no meu eu, no infinito ?

Afinal, aonde estão ?

Páginas 28 e 29                            

 

CICATRIZES

 

Estagnado em meu quintal

espio o sol

como quem desfalecendo

observa o que não vê.

 

Recolho o olhar sobre as misérias

enquanto escolho os sonhos

que reprisam as procuras

e disfarçam cicatrizes

nas loucuras do ilusório que se crê.

 

Um medo involuntário arrasto

pra ninar as marcas

do incurável desta solidão.

 

E a luz do sol

a sombrear o olhar ao chão,

reflete um corpo entristecido

a rastrear pelo quintal

o que sobrou do ser vencido

pelo tempo que a verdade da mentira

transformou em ilusão.

Página 30

 

CONTRADIÇÕES

 

Há um poema

encalhado na inspiração.

Algumas sensações detidas

no silêncio estrangulador.

 

Ruídos de pessoas

prisioneiras

da realidade do show.

 

Nas praças pajeiam seus cães

desprotegidas do medo

e giram entre as cercas

que não as protegem

de si.

 

Há um poema enclausurado

no abstrato das contradições.

Um ritmo pobre,

uma rica rima

escapulindo da palavra dor.

 

E há a solidão de coisas

que atropelam sentimentos

impedindo o verso encalhado

neste desamor.

Páginas 31 e 32

 

CONTRAVENÇÃO

 

Não há pão.

Não há saída para a falta de pão.

 

Uma criança estranhamente ri

enquanto espreita o pai

a procurar o que fazer

deteriorado pelo sonho executor.

 

Destituídos de razão

alguns olhares premeditam a contravenção.

Os homens vagam sem vaga

entre as máquinas informatizadas

que espiam os pedintes

uniformizados no clamar por pão.

 

A multidão se contamina

de um sentimento comum,

horrendo,

mas que não tem nome ainda.

 

Não há riso. Não há graça.

Há risco e mais desgraça.

 

A dor globalizada

é qualquer coisa singular.

 

Alguns beatos sentenciam

uma espera que machuca.

 

E a criança, a aguardar o Pai,

olha o quintal que já parece o mundo.

O sentimento mais comum se expande

e se entrelaça ao pão ausente,

ao pai ausente, ao sonho,

à gente. 

Páginas 33 e 34

 

CRACK

 

A rua está fria

e não há poesia

no ar que envolve

o mascarar destes sorrisos.

 

A esperança

a ser pavimentada,

em abandono,

clama pela Providência.

 

Há que se ter prudência

na abordagem do olhar.

Há um crime no clima

que envolve este clamar. 

Página 35

 

CRISTALEIRA 

 

A minha ideologia partiu

como ao vento

o trigal se despenteia.

 

E preso à sua teia

como inseto vitimado

pela aranha que morreu,

debato-me

a sacudir os sonhos

que se desprendem de mim.

 

A minha ideologia

partiu-se

como a porcelana

que despenca frágil

de uma cristaleira de lei.

 

A lei…

ora, o que será de mim

que não me sei ?

Página 36

 

ENTRE OS IGUAIS

 

À noite,

limpo a minha alma

escovando os dentes.

 

Detritos do dia

contaminam o hálito

de cada pensamento.

 

As frases, entrecortadas,

valsam entre o bem e o mal

a confundir o sentimento.

 

E sondo, atordoado pelo sono,

a razão do medo que me encharca.

Espio pelo vão da porta

e vejo a claridade morta

meio à rua parca.

 

E rente a mim, atrás dos muros,

guardados, proprietários espiam,

entre grades, calados,

os pedintes que se impõem armados.

 

É feio o desafeto entre os iguais,

que à noite, enquanto escovam dentes,

limpam almas,  qual dementes

hipocritamente boçais.


Que meditam o eterno,

para no outro dia,

em um outro terno

reeditar a agonia

deste mesmo inferno.

Páginas 37 e 38

 

ERRO

 

No olho do outro

o erro visível,

intenso.

 

Na menina dos meus olhos

a metáfora

que eu não quero ver,

no que faço,

no que minto,

no que penso,

no que não posso conter. 

Página 39

 

ESTAÇÃO

 

Outono nos corações dos homens.

Crianças arrastam seus uniformes

para algum sonho distante.

 

A felicidade dos loucos

contrasta-se com os gritos de liquidação.

 

Os sonhos, nas estações, que partem.

Nas estações, os homens, que sonham.

Nos homens, os sonhos, sem estações. 

Página 40

 

EXECUTOR

 

É madrugada e as sombras do impreciso

imprecisam minha insônia

de lembranças que se mesclam

ao presente esquecível.

 

Atormentam-me os ponteiros

que trepidam

o instante previsível.

 

E a espera a entreter a dor

embala os meus versos que adormecem

no relento de um medo ditador.

 

Metáforas involuntárias

que afrontam minhas portas,

que trancadas, me protegem

de um silêncio executor.

 

Mas os dias, entrincheirados, se arrastam

entre olhares que se entrelaçam

em bombardeios civis.

 

…Indigestos sentimentos

que deterioram pesadelos

desesperançados

e vis. 

Páginas 41 e 42

 

FARÓIS

 

Dos automóveis, blindadas,

as crianças espiam ambulantes nos faróis

e curiosas observam uma liberdade estranha.

 

Pontiagudas sensações que irão desvanecer

no homem, que ao crescer, vai se manter

na opulência de suas prisões.

 

Nos corações, o transitório sentimento de igualdade.

A criança, no farol, vê no automóvel

outro tipo de felicidade.

 

Pedir, vender, furtar a compaixão

detida pelo para-brisa de vidro fumê.

 

A criança procura na imagem

alguma semelhança e não se vê.

 

Mas a velocidade retomada no farol aberto

distancia as diferenças

entre os seres que sonham iguais.

 

E crescida a criança,

o coração deserto,

faz de conta que as sentenças

das misérias

são coisas normais. 

Páginas 43 e 44

 

FRONTEIRAS

 

Rente ao meu quintal

o bem e o mal a me acenarem

do outro lado dos muros.

 

Fronteiras que me cercam do mundo,

exilando-me dos homens

que me espreitam do lado de fora de mim. 

 

Rente às minhas cercas

bandeiras que se arrastam

à revelia dos sonhos

que me arrebatam.

 

E inconformado

um coração alfandegário

sente-se infiel

ao ver a fé banalizada

pelo contrabando dos mitos.

 

E do outro lado das fronteiras

os que se fartam da fome

e se divertem com homens

que fazem arte com gritos. 

Página 45

 

FUMAÇA

 

Sonolentas expressões de medo

cambaleiam nas esquinas

tateando as madrugadas frias.

 

Caçam o pão

que a ambição do semelhante

escassa.

 

Caçam o sim

no não

que contamina a raça.

 

A praça…

Ah! A praça !

 

A praça é dos (per) ambulantes

como o céu

é da fumaça. 

Página 46

 

INCONTESTÁVEL

 

Atravessamos o futuro

por dentro do dia a dia

deste presente incontestável.

 

As coisas se dão assim, irremediavelmente,

e vão alicerçando um imenso passado

sob o nosso instante frágil.

 

Fumamos, morremos, paramos de fumar ou de viver,

fazemos aniversário de vida e morte

até que nos esqueçam

por ausência plena de importância temporal.

 

Ao certo ficamos em meias verdades

inteiramente inacabadas.

Em verdade acabamos entendendo

que somos incertos demais

para o risco das verdades inteiras.

 

E riscamos do mapa alguns sonhos,

algumas brincadeiras, amigos, coisas, ideologias.

Procuramos o preciso para o que precisamos

neste impreciso agora.

 

E no abstrato

destes sentimentos impalpáveis,

na sequência dos fatos que arquitetam os instantes,

vasculhamos o futuro inadiável

destes dias de completa lentidão.

 

Então olhamos o pedaço de rua que nos cabe,

o recorte de horizonte possível,

os muros impávidos que cerceiam os olhares

e atravessamos o futuro por entre o dia a dia

deste tempo incontestável

qual um templo que professa ilusão.

Páginas 47 e 48

 

JOIA RARA

 

A morte ronda o presente

qual a guardiã

de uma joia rara.

 

Na espera

espadas que se cruzam

no reflexo dos olhares

a se debaterem instintivamente

como o latente

de uma dor que nunca para.

 

A vida é um duelo

de feridos que resistem.

Um elo entre o nascimento

e a procura de amores que inexistem.

 

Rumores sobre o que não sei

se espalham pela sala.

No verso, a dor que insiste,

imensa,

como o silêncio

que de intenso o sentimento cala.

Página 49

 

MATÉRIA VIVA

 

Esperamos o jornal da noite

para ver o acontecimento do dia.

Abstratos os fatos insistem

em decretar a penitência da vida.


O dia seguinte

noticiado na noite anterior

não se materializa.

 

Estagnados

os fatos fantasiam a realidade,

que subjetiva, no outro dia,

vira a manchete da noite

que nos concretiza.

 

E nos sentimos partes

das matérias de capa de cada estupidez

em nossa crise instintiva

e cúmplice desta imparcialidade negligente.

 

E esperamos pela noite

qual o guerrilheiro

a aguardar uma notícia de paz

enquanto atira em mais um desconhecido.

 

Aguardamos o acontecimento do dia,

que desapercebido, passa

num espetáculo que não vira matéria

enquanto a ordem de paz não vinga.

 

Um escândalo a mais

a se esconder no pôr-do-sol

banalizado.

 

E a matéria da existência,

na calada da noite

espreita este tempo insosso

quebrando um silêncio de aflição.

Páginas 50 e 51

 

NÁUFRAGOS

 

Ancorado em ti,

qual à deriva um náufrago,

mergulho em nossas mágicas

como quem maestra

a marcha nupcial da solidão.

 

Um procurar palpável

a sobrevoar um medo

mímico e intolerável.

 

Máscara narcisista.

Reflexo lúdico

a nos procurar em um espelho

cúmplice.

 

Concentração em campo aberto

onde o incerto

é o que detém a liberdade

ancorada na razão do estar.

 

E em franco desespero,

franco-atiradores,

atiramos nossas dores

com os órgãos genitais

e nos jogamos contra os travesseiros

como plumas em amor

de pedras ancestrais.

 

Náufragos de incertezas

em âncoras de paixão sem fim,

sobrevivemos à turbulência

saboreando o nosso sonho

como a flor ao sol em um jardim.

Páginas 52 e 53

 

O ARGUEIRO

 

No semelhante

o argueiro imenso

a competir

com nossa trave pequenina.

 

E na menina dos olhos

o ardor intenso da esperança

que espera oscilando

entre a fé de uma razão que contamina.  

 

No semelhante a miragem

de uma dor universal

que não sabemos se é por bem

que nos faz ver o nosso mal.

 

Semelhantes os olhares se procuram

denunciando invisíveis que torturam

previsíveis como o dia ainda não ido

ao futuro do que é desconhecido.

 

E no que desconhecemos,

na dor do outro que nós também temos,

o rir possível,

o prodigioso amor

que pressentimos e não percebemos

porque à nossa evolução

se mostra inteligível. 

Páginas 54 e 55

 

O CARPINTAR

 

Agonizam empoeirados

em meio a velhos ideais

alguns poemas mal concebidos.

 

Os móveis, desordenados,

impedem o plantio dos sonhos,

que daninhos, esmorecem.

 

O verso impõe a solidão desnecessária.

 

É impreciso o meu olhar

no interior do que pressinto

a vasculhar o meu futuro

no presente que restou

deste passado falso.

 

O que havia de sabedoria

nesses sonhos que jamais sonhei,

mas que impostos, se deterioraram?

 

A agonia arrasta-se, maligna,

a contaminar a minha face

envelhecida pelo riso que não veio.

 

Os amigos partiram na renúncia

do que era falso da espera,

que subordinada ao sonho, se desfez.

 

E o silêncio, carpintando o vago,

esculpi a luminosidade

de outras portas…

 

Possibilidades do instante

que arquiteta incessante

o extermínio da agonia

restaurando um outro verso

para a mesma poesia.

Páginas 56 e 57

 

O CONDÃO

 

Escondo-me do som da sala

ouvindo Wolfgang Amadeus Mozart.

Refugio-me do lar entrando em mim.

Perco-me no verso

a se compor em um poema ruim.

 

O telefone que não para

enquanto corro atrás de soluções

para esse tempo insolúvel.

 

Soluços saltam pelas faces

que me acompanham

à caça do condão que não possuo.

 

Em praça pública

debruço-me sobre as dores

dos que cobram a medicação pro incurável.

 

As igrejas multiplicam-se

minando o meu espaço ateu.

Ovelhas são executadas pela fé.

A desesperança perde-se de Deus.

 

A violência vira o fato do dia,

o fardo atado à letargia.

Olhares que disparam sobre a calma.

E o medo a coibir a nossa alma.

 

Fugidios somos raptados pelo tédio.

E raptores de nossa liberdade cativa

vivemos um sonho criminoso

capturado pela falta de perspectiva.

Páginas 58 e 59

 

O CRIME

 

Impondo-se à dor dos homens

o sol

entre os arranha-céus

acomoda os seus raios

nos olhares

que edificam sonhos vis.

 

Trabalhamos o pão da hora,

a hora do dia,

a dor,

do agora, a poesia.

 

Do instante em trânsito,

abstrato,

lapidamos um concreto burilar,

lacônico,

como um parto passado

de um tempo de futuro sem presente.

 

Talhamos o momento sem tê-lo,

o tempo sem vê-lo

e vivemos intensamente o sonho,

como um crime,

a escondê-lo.

 

E de misérias repartidas

semeamos uma opulência de dor.

A paz que construímos

é regada pelo desamor.

 

Então dormimos o sonho

de uma vida que não dura,

para a felicidade distante

de uma eternidade prematura.

Páginas 60 e 61

 

O DIA

 

O dia, repetitivo,

impõe-se

adverso

ao padrão do ontem.

 

Sorrateiro,

rasga as horas iguais,

contraditório

ao tempo que passou.

 

O já, de hoje,

momentâneo

e pretensioso de futuro,

é banido ao passado recente,

enquanto a vida esvai-se

repentinamente,

sequestrada pelo instante

que não para.

 

E reféns do tempo,

olhamos o dia

com ressalvas,

como o condenado

que implora

a liberdade

no olhar

do executor.

Páginas 62 e 63

 

O FARDO

 

Na parede, o ponteiro,

qual o guardião do céu

a aguardar as badaladas

do momento seguinte.

 

A TV a retratar os desacatos do dia.

A nova guerra fria esquenta

enquanto que os tormentos

ampliam uma audiência de dor.

 

A poesia é mera tentativa

diante dos atentados.

Os homens nos movimentos de paz

enquanto se manifestam armados.

 

A poesia vira um fardo

que se arrasta pela madrugada

como um cuco insistente

a corroer o sono em cada badalada.

 

E o relógio trepida

vitimado por mais um bombardeio,

cirúrgico, mas impreciso,

porque os senhores da guerra

desconhecem que o riso

está no caminho do meio.

Páginas 64 e 65

 

O GARI

  

O mundo anda sujo.

 

Um homem varre

o canto da calçada

e canta

um canto de encantar

o mundo,

um canto de encantar

todo mundo,

como se aquele canto

fosse o último desencanto

a se limpar

para se restaurar

todo o encanto do mundo.

Página 66



 O GRITO

  

Na musicalidade dos versos

a rebelião silenciosa

das palavras enobrecidas

que lavram uma busca incansável.

 

Em cada ponto,

em cada canto pelos ares,

suprindo os desencontros

atrás do reencanto dos sonhares.

 

Na melodia dos olhares

a insurreição das frases no infinito,

alimentadas pelos sentimentos,

que reagem ao silêncio

insubordinadas

pela necessidade do grito. 

Página 67

 

OLHARES

 

Olhamos de lado

e nos olha o outro,

mudo, num mundo surdo,

a nos espreitar

como se um espelho fosse

a representar, talvez,

uma outra parte do que somos.

 

E profundamente

vasculhamos o outro lado do outro,

a nos procurar,

e olhares outros repartimos na escuridão

pra clarear a multiplicidade de sentidos

no que olhamos.

 

Olhares que são grãos de areia

no infinito da procura.

Mar de buscas nestes prantos.

Acalantos pro sonhar

que no horizonte perde-se entre encantos

sem ter cura.

 

E para nos encontrar do outro lado

do que imaginamos que vemos neste vai e vem,

olhamos desesperançados do outro lado da rua

como o prisioneiro que transcende

para a liberdade que não tem.

 

E do outro lado o outro nos olha de lado,

disfarçando o sentimento como lhe convém,

procurando  nos olhares que se perdem

o mesmo intrigante achado

que o outro procura também.

Páginas 68 e 69

 

O LOUCO

 

Não tinha o lápis em mãos.

Então não mudei o mundo.

Como vítima do inesperado

o poema se perdeu no segundo.

 

Do outro lado da cama

uma máquina sem fita,

fora de moda, fora do tempo

qual o poema que se foi.

 

Do outro lado da rua,

a rir, um louco,

como se de mim zombasse

por me ter furtado o lápis em desuso.

 

E pra fazer de conta

coloquei-me ao teclado,

impávido como um mouse

a aguardar a mão

que a esperar por sentimento

não se move.

 

E novamente

o louco riu

e a acenar-me foi embora,

como se tivesse hora,

como um sonho bem real que esvaeceu

ou como o poema que no agora me feriu

e desapareceu.

Páginas 70 e 71

 

O MAR

  

O lixo acumulado

aponta para a involução.

 

As pombas sobrevoam

os restos das pessoas.

 

Os homens bolem na nudez alheia

como as aves, que famintas,

ciscam pela areia suja.

 

Olho para o infinito

como quem vasculha

as margens de si

a rastrear o próprio grito.

 

Cisco os detritos que me invadem

como o ser que fuça

na nudez da própria involução.

 

E os versos sobrevoam meus sentidos

como quem revira entulho

à caça do que não perdeu.

 

O sonho acumulado

aponta para a desilusão,

num mar de ideologias à deriva

que sufoca o revoar do coração.

Páginas 72 e 73

 

O MITO

 

É vasto

o canto em que te guardo

neste coração de pedra.

 

Vasto silêncio

no meu grito.

 

Vasta emoção

que no meu peito

medra

de infinito.

 

E se és razão

em mim

pra desapego,

eu tenho medo

e neste canto

te transformo

em segredo e mito. 

Página 74

 

O PORTÃO E O MUNDO

 

Entre o portão e o mundo

as janelas para o infinito

involuntário.

 

O passo trêmulo,

o olhar envelhecido

pelas horas que não cedem

ao descaso do presente insosso.

 

A decisão sempre tardia,

o mundo impávido a violentar a alma

presa no quintal

qual a guardiã do pouco bem

que é vitimado por todo esse mal.

 

O cálculo do ter

metodicamente insuficiente

para o ser que não se basta

e se entedia incapaz de ver

o pôr-do-sol que insiste em se compor

perante a vida vasta.

 

E o portão,

sempre a um passo do infinito,

é o divisor entre o silêncio e o grito

e anuncia a calçada para a rua intransitável

qual a fronteira para um mundo

que nos chama ao desconhecido

de um futuro inevitável.

Páginas 75 e 76

 

OPOSTOS

 

Em meus opostos

confronto-me

afrontado por verdades

que não quero ver.

 

No sexo posto,

no partido oposto,

o outro lado do que sou,

a outra parte da minha metade

suja.

 

Se democrata, escondo o ditador.

Se mostro o riso

é pra não ver a dor.

 

Em meus opostos

os conchavos pra deter o olhar alheio,

as coligações de bem ou mal.

 

E no silêncio a corrupção

do que não sinto,

do que vejo no que estou,

e do que minto

pra deter a oposição do que não sou.

Páginas 77 e 78

 

ORDEM DO DIA

 

Na ordem do dia

o momento secular

a ser desvendado.

O mistério do instante

em sequência eternizado.

 

A vida

nos encurrala à história.

O colapso dos sonhos

vai alicerçando

o destino instintivo

nem sempre coroado de glória.

 

E ingenuamente

acreditamos conduzir

a execução da hora,

o fato do dia,

a palavra de ordem

na desordem do mundo

que se perde globalizado

no indivíduo entristecido.

 

Na pauta,

a ficção do que sentimos,

o libertar que coagimos

pra fraudar nosso discurso iludidor

e convencer do que queremos

o que nem ao certo sabemos

se devemos

neste projeto de dor.

Página 79 e 80

 

PARA HOJE

 

Ainda para hoje

vasculhamos a vida na janela.

Chove e o dia chora

o sol que fez do coração a cela.

 

Algumas lágrimas

alagam  para-brisas de emoção.

O caminho, confuso,

distorce a nossa direção.

 

As dores ninam

a canção que nos embala

e a inspiração, que de excessiva,

o verso embriaga e o sentimento cala.

 

Ainda para hoje

a poesia vasculhamos  na janela

pra que o coração liberte o dia

e a vida, como em arte, se apresente bela. 

Página 81

 

PERFIL

 

No perfil de cada um

os sonhos proibidos,

as manobras da alma.

 

Encantadas insobriedades

de paixões não ditas.

 

No perfil, a dica

do que somos

ou do que gostaríamos,

do que declaramos ou escondemos

dentre os medos e coragens

que administramos.

 

No perfil do outro

o nosso espelho,

a nossa imagem cúmplice…

ao nos descobrirmos infiéis

nos vasculhando

nos perfis de tantos.

Página 82

  

PLANTA

  

Estacionado em meus aposentos

alimento os transeuntes

com olhares de escárnio

maldizendo o vaso

em que me encontro.

 

Uma planta de fé

fincada em raízes

de aflição e medo

sobre o nada.

 

Um pé

de qualquer coisa

plantado na contramão dos sonhos

e atropelado

pela própria estrada.

Página 83

  

POEMA NOVO

 

Façam silêncio!

Poema recém nascido!

Tem sangue quente

em suas formas.

 

Prematuro, aguarda pra vingar

o sonho de estar aqui.

A vida frágil,

sem nome ainda,

pulsa velozmente

no pequeno corpo

de palavras

que não choram.

 

Nasceu no adiantado da hora.

Quase todos já dormiam.

Não há reis e não há magos,

mas a cadência das estrelas

o anunciou.

Página 84

 

PREVISÕES DO AGORA

 

Sabemos do hoje

o que podemos apalpar

no imediato.

O resto é o impreciso:

o dia, o sonho, o riso,

o provável do próximo ato.

 

Sancionamos o evitar

de algumas sensações,

de alguns silêncios

escondedores do medo,

dos nossos mistérios,

dos nossos segredos.

 

E visionários,

premeditamos vitórias

exercitando o futuro

como nos convém.

Mas derrotados, um dia, pelo instante,

todos, é certo, seremos avisados

que no próximo

morreremos também.

Página 85

 

RECONSTITUIÇÃO

 

E há o silêncio que dói,

que rompe a relação,

que separa.

O silêncio

do distanciamento dos corpos,

do não,

do nunca mais, talvez.

 

Silêncio que reconstitui os fatos,

as falhas, os crimes,

o estar desordenado das coisas

e dos sentimentos sublimes.

 

O silêncio extrapolador do momento de agonia,

caminheiro da eternidade

de uma raiva passageira da melancolia.

 

Silêncio que arrebata o dia

e vence a noite

que resmunga ruídos

na ausência da escuridão. 

 

Este silêncio é de fato.

É de ruptura e reconstrução.

É o silêncio revisor da dor

que a alma depura

para aliviar o coração.

Páginas 86 e 87

  

RENÚNCIAS

 

E diante do medo

a estagnação moral das atitudes,

a represália de si próprio

contra as ambições.

 

Renunciar à coisa ?

Às coisas ?

Renunciar à causa

De uma vida inteira ?

 

Quantas contramãos

terei que suportar

trombando os desacertos

destes descaminhos ?

 

Não sei. Não sei

se ser um sonho

tempestivo e mudo

a alavancar os recomeços

desta história insossa

pode enfim dilacerar

o fim dos muros.

 

Muros… mundos,

mundos… muros.

 

Até quando

o procurar destes poetas de minúcias

semearão , oh!, pelos ares

os altares das renúncias ?

Páginas 88 e 89

 

RETRATO

 

A corruíra da minha infância

pousa na pose dos meus anos.

Inabalável, idêntica,

intacta em sua eternidade afã.

 

No meu espelho

uma outra cara

espia a ave que enquanto pia

espia o cara que se guarda

entre as chaves

de uma brincadeira

que lá dentro

eu sou.

Página 90

 

SACRILÉGIO

 

Ateu nas orações

procuro

a ovelha desgarrada

dos meus sonhos.

 

Espreito sobre o medo

a noite

e meço a escuridão

de cada esquina.

 

A solidão se mescla

à ausência nos olhares que meditam

sobre o que de fato

o fato que assistimos contamina.

 

Premedito as normas da felicidade.

Reedito no silêncio

a turbulência das mentiras

de cada verdade.

 

Manuscritos de uma fé que não se vê

sempre distante da razão subjetiva

em quase tudo o que se crê.

 

E encurralado pelo medo

encontro Deus

nas madrugadas do meu coração.

 

Um templo

de fiéis alucinados,

oscilantes sentimentos

entre o sonho e a razão.

Páginas 91 e 92

 

TOCAIA

 

Pirilampos ameaçam

esta escuridão.

Na anomalia depressiva

da desesperança

as expectativas rondam

nossa imprecisão.

 

Por detrás dos sonhos

sentimentos em tocaia

que se movem

feito bichos peçonhentos

a nos espreitarem.

 

O medo a acovardar

nossa coragem

que oscila

entre o esperanto

e o palavrão.

 

Gírias boçais

que não traduzem emoções enclausuradas.

 

E no silêncio do amanhecer

a eternidade ameaçada

pelos manos que se atiram nas calçadas.

 

A fé no semelhante

morre estatelada na tocaia dos homens

que se emboscam pelo coração

estranhamente à procura do abstrato

que os libertem do concreto

de sua própria opressão.

Páginas 93 e 94




Espaço Editorial

Inverno de 2007