“Os dias se entrelaçam

para que o tecido do tempo

retempere nossas almas.”

 

DA PEDRA À PLUMA E O INESCAPÁVEL DESTINO DA POESIA

Por Reinaldo Melo

 

     Em seu primeiro livro, Notas das Horas, Paulo Franco explorou a palavra pedra como metáfora de um alicerce da abstração em que o concreto dos dias está assentado. “O Trem Comum”, “Instantes de Pedra” e “Túmulos de Paz” são poemas da obra de 1995 que traduzem a relação do eu com o cotidiano, pautada entre o mundo material e o almejar uma transcendência inalcançável, o ser que “empilha a pedra/ [e] desintegra a vida”. 

       Passados vinte e dois anos, em A Rua Dos Dias o poeta volta à carga mais uma vez utilizando a antiga metáfora. Mas ao invés de assentá-la, joga-a para o alto, com o claro intuito de revisitar sua poética. E engana-se quem classificar tal movimento como subterfúgio de uma poesia em crise. O que se vê é a justaposição da imagem pedra a outras contrárias, e o resultado é uma obra, que mais uma vez, revela uma lírica comprometida consigo mesma sem se utilizar dos escapismos tão comuns. É uma poesia que, ao ser metalinguagem de si mesma, consegue transpor a pedra na qual se assentou.

     “O Tecido” é um claro exemplo de uma poética que não naufraga em si, pois se constitui como arte que de si quer escapar, ao afirmar que metáforas como pedra “são exemplos típicos/ desta maquiagem que o poeta/ ensandecido proclama para cutucar/ o nosso olhar…” Porém, a pedra que ensandece é a mesma pedra com o qual “tecem-se os sonhos”.

      “O Tempo e A Pedra” é o poema chave para se entender a trajetória da lírica de Paulo Franco. Vemos que o peso desta sina é transformado em material do próprio fazer poético. A pedra “é bem maior que o poeta”, mas
é dela que se fazem as ondas, os sonhos, as dores, a eternidade e o canto que povoa esta poesia. É este o processo que a palavra executa: transformar o peso das coisas em leveza do olhar, mesmo povoado por “mar e icebergs”.

      E é o memorialismo intimista que evoca a metamorfose da pedra à pluma, do menino ao homem que o investiga, da inconformidade com o presente ao saudosismo de uma infância assinalada como utopia perdida.

      Em “As Cigarras e Os Girassóis”, o canto das cigarras é uma lembrança análoga ao canto dos entes queridos perdidos, das canções de ninar acalentadoras. Aqui o poeta demonstra o domínio da construção das metáforas que traduzem o peso de sua condição: “alma de vidro” “alma sólida” e “pitorescas alegorias” são justapostas às imagens da infância, que funcionam como ópio de um ser que, desperto no labirinto da vida adulta, se remete à leveza das “paredes de fumaça”, da “taipa da alma”, dos “campos de girassóis”. Enquanto que a vida o petrifica, pois “e meio menino, fui virando outra coisa”, a poesia faz o movimento contrário: se transforma num pathos alegórico capaz de o remeter à utopia sinestésica “meio a sons, cheiros e tons/ de uma intensa e infinita saudade”.

      “O Tear” segue o mesmo fundamento na construção de imagens nostálgicas que se contrapõem ao fato de “que o futuro é sempre o porvir/ já que o presente o tece lentamente”. Com isso, quer o poeta a defender que o passado é o único elemento lúdico capaz de suavizar “o olhar, timidez de um mundo estranho”?

       Não! Paulo Franco se destaca na poesia brasileira justamente por não delegar a si a tarefa de um escapismo romântico ou de pirotecnias formais. Sua abordagem é material e metafísica: sabe que o tecido da vida é o presente, “o instante é único o tempo inteiro,/ universal e inevitável”, entretanto pontua que nele é que se bordam as reminiscências sobre a construção do ser simultaneamente com o que “modelam  a espera pelos amanhãs/ que outros hojes virarão”.  

        A preocupação com o dia seguinte coaduna com a obsessão pelo dia seguinte. “A Página”, “Flor Fora de Hora”, “O Arquipélago do Tempo”, entre outros, configuram-se dentro da obra como formas diferenciadas sobre o mesmo tema: o tempo presente caótico faz a poesia urgir naquilo que é a sua tarefa: ser retrato do que o humano foi e é, em sincronia com o que este poderá vir a ser. E eis onde mora a genialidade de todo poeta que leva sua arte a sério: a exploração de seu interior para que a poesia seja a antena a captar os anseios universais da raça humana.

        Temas como Amor, Política, Família e Cotidiano também se fazem presentes, mas são pontuais na construção que A Rua Dos Dias faz da relação do indivíduo com o tempo que lhe foi dado para apreender e vivenciar estes elementos, na complexidade e singeleza com que tecem o efêmero absoluto, tópico central desta poesia.

       Esta é uma obra riquíssima. Uma perfeita tradução do peso e da leveza da vida e do inescapável destino de uma poesia que faz da pedra de nossos dias “uma linguagem que acalme o coração”.

Reinaldo Melo é Mestre em Teoria da Literatura

 e Crítica Literária pela PUC-SP  

Páginas 9, 10, 11 e 12

AS CIGARRAS E OS GIRASSÓIS

 

O canto das cigarras da minha infância

alimenta a minha alma de vidro

que foi se partindo a cada partida

nas estações deste viver de inconstâncias.

 

E a mesma alma sólida e simbólica

se alimenta ainda hoje

do lúdico e do contraditório

de cada lembrança que se eterniza.

 

A emoção que arrasto concretiza

as minhas vidas todas em uma

e trama realidades subjetivas

enquanto poetiza

a dor do amor um pouco a cada dia

na vastidão da poesia deste labirinto,

qual o opiário de mim na correnteza do que pressinto.

 

Eu seria outro se as saudades fossem outras,

ou, talvez, se as lembranças não existissem,

sobretudo aquelas que demarcam as covardias

que determinaram o meu lugar comum

de renúncias e arrependimentos.

 

As imagens que vejo sobre o que vivi,

hoje, são pitorescas alegorias

sobre o que não fui ou vi.

 

A casa simples com paredes de fumaça

era um santuário de premissas

por entre as madrugadas de insônia

que a infância fingia não perceber.

 

Sobre o fogão a lenha

o porco de estimação a se defumar

para manter a vida que nos determinava

à razão dos fatos, sem poesia ou contradições.

 

Na taipa da alma, um menino se escondia

alimentado pela luz de cada dia

que alicerçava a poesia

meio a prantos e encantos

que ninguém nunca percebeu.

 

Arteiras, as palavras já brincavam

de antíteses e ironias

que ainda não tinham nome,

mas que vagavam por entre o bem e o mal

e ardiam na alma em combinações vocabulares

que jamais fizeram sentido literal

pois as metáforas ainda iriam acordar.

Algumas figuras pobres

foram determinando

o passageiro dos dias ricos

que não voltaram mais.

 

A mãe, o cão,

as fogueiras que o pai fazia no quintal,

as estórias de assombração,

os medos pequenos,

os medos grandes

que me ninam ainda agora.

 

E meio menino, fui virando outra coisa,

pois que tudo o que havia já não há,

embora muitas emoções continuem estranhas,

indóceis, indomáveis e à mercê

do figurativo que a alma impõe.

 

Agora o tempo é outro,

sou outro a cada lembrança,

a cada presente que se desfaz

para virar as lembranças dos outros.

Apenas o canto das cigarras,

em mim, permanece o mesmo

e o tempo fez surgir

alguns campos de girassóis.

 

Manhãs antigas a cada novo sol

demarcam inéditas esperanças

de uma vida a cada instante,

uma vida no meio de uma multiplicidade de vidas

sob os mesmo medos intermináveis,

inconstantes e doces

de que um dia tudo isso acabe

embora no quintal de nossas imagens

algum ente querido que partiu ainda cante docemente

os versos de antigas cantigas de ninar

que acalantam a criança em nós para sempre

meio a sons, cheiros e tons

de uma intensa e infinita saudade.

Páginas 13, 14, 15 e 16

 

BOCA DA NOITE

 

A noite ainda não veio.

Então caminho o final do dia

a observar os pássaros

que se escondem

da escuridão anunciada

pelos ruídos nos restos de luz

que vão adormecendo

nos cheiros da boca da noite

para o ninar dos raios

que orquestrarão o prenúncio

de um novo pôr do sol. 

Página 17

 

CARNAVAL

 

Tenho uma alma com plumas e medos.

Os paetês estão coloridos

no coração que pulsa sem cor

a mescla de iras e sonhos escondidos

no olhar que a todos enfrenta

cabisbaixo.

 

Palhaços, laços, estilhaços de esperanças

como arlequins e pierrôs de pedra

entre serpentes e serpentinas

que rompem os silêncios

das minhas madrugadas frias, cansadas

de insônias repletas de buscas que não cessam

em nome da procura implacável sobre o indizível

que não gera sono, mas embala o tempo

na grande avenida dos sonhos.

 

Os meus invisíveis

alimentam o meu dia de rua,

de aços que se movem, de lua,

movediços sentimentos que deletam o presente,

o passado ausente,

o futuro inexistente de alegorias imaginadas

que são sempre ícones improváveis

deste tempo que se contradiz

repleto de desesperanças e desilusões

que enfeitam arrependimentos

sobre o que nunca fiz.

 

Plumas e paetês desfazem o poeta

para que a poesia reexista

aonde nem existe fantasia.

 

Há pierrôs esparramados

nos meus versos

que são alas do que sinto

ao inverso do enredo

a ser representado

num desfile de adeus à carne.

 

Há colombinas,

mestres-salas

que portam bandeiras

meio a arlequins embriagados

e alguns garis com fantasias de felicidade

que demonstram euforia

enquanto gritam “carne vale!”.

 

Nem é quarta-feira

e as cinzas do que fui me fantasiando

esparramam-se pelas avenidas

onde não há mais ninguém

além dos heterônimos que se cruzam

invisíveis ao meu mais profundo eu.

 

Mas é carnaval no meu poema

de enredo impreciso.

Cada verso serpenteia um guizo

e a vastidão do que pressinto

nunca cabe na primeira estrofe

e clama quando alguém o declama

por um poema longo

de “eu lírico” que esconde que ama

onde a escuridão em versos brancos

fantasia-se de luz

para que o dia atrás das noites

traga a poesia em vasta claridade

para o carnaval que é a vida

que caminha ritmada para onde?

Para o fim ou para a eternidade?

Páginas 18, 19 e 20  

 

CASAMATA

 

Em meu coração de guerrilheiro sem armas,

inativos,

alguns sentimentos se escondem do medo

dos bombardeios que o querer determina.

 

Minado por dentro,

pulsa passivamente

como o que vai explodir

indiferente aos motivos

de suas próprias guerrilhas.

 

Meu coração

tem caminhos estranhos, estreitos

que não levam a paixões extintas

e nem desfazem os medos

que o mantêm esconderijo de si.

 

Casamata ativa a esconder-se

das artilharias de lembranças

que viram saudades no presente

de uma guerra por sonhos

que nunca deixaram de existir.

 

Em meu coração,

prisioneiro de intrigantes buscas,

o meu olhar soluça no horizonte

fingindo-se de liberdade,

quando na realidade

só o meu coração sabe

que ele é prisioneiro de si.

Páginas 21 e 22

 

CATACRESE

 

Havia uma palavra em silêncio

caída ao lado do pé do fogão,

outra perto da perna da mesa

e mais uma recostada no braço do sofá vazio.

 

Enquanto isso,

o olhar distante a olhar

a asa da xícara estática,

a cabeça do alho

triturando-se com os próprios dentes

diante do bico do bule

a aguardar o cheiro do café

guardado na lembrança

de alguém que não existe mais…

 

Ah! A saudade é como um sentimento

que de tão intenso

parece que ainda não tem nem nome.

Página 23

 

CONTRAVENÇÕES DA ALMA

 

Quando imaginei um amanhecer diferente

a minha alma ainda era tenra,

os meus sonhos eram pequenos

e a felicidade se agigantava

com  qualquer brincadeira de roda,

porque a vida ainda era

a resplandecência de um imaginário

que incandescia o olhar

inebriado de horizonte pleno.

 

Quando imaginei um outro tipo de mundo,

as utopias eram iguarias em minha alma,

as palavras socializavam os sonhos

e traziam a grata sensação

das esperanças incansáveis

daqueles que, em paz, arrebentam barreiras,

derrubam tiranias

e reconstroem gritos de liberdades

sobre destroços de muros e de silêncios.

 

Quando te ofereci paixões,

o meu amor não existia ainda

e o coração, repleto de bandeiras,

tremulava em imaginários mastros

que só sustentavam tênues ilusões

de que as coisas, um dia,

seriam diferentes.

Sem cercas, propriedades ou contravenções.

Páginas 24 e 25

 

CULPAS

 

Das vontades do corpo

aos pecados da alma,

as incógnitas dos sonhos

estampadas nos fatos.

 

Na ausência das esperanças

o olhar o sol sem ver o dia,

indiferente a quase tudo

em um vago necessário e inoportuno.

 

No calendário,

um não valer a pena estagnado pelo hoje

ridiculariza o amanhã

como se não tivesse existido o ontem.

 

Parasitário

nego o diagnóstico das emoções

que determinam a ausência dos desejos

indesejáveis a cada afago não realizado.

 

A esperança cambaleia no remorso

de cada sensação que não vingou

e vitimado pelas culpas da desilusão

nega o coração a absolvição dos sonhos

contaminado pelo fogo que é a paixão,

este ilusório vocábulo que nos causa dor

porque confunde a frivolidade do momento

com a eternidade do mais nobre sentimento

só contida na palavra amor. 

Páginas 26 e 27

 

DO SILÊNCIO AO GRITO

 

Iludidos, os sonhos dos velhos adormecem

enquanto que a juventude

sacode mastros ancestrais que não envelhecem

na ilusão de que inexistam bandeiras banais

que avolumem os canibalismos involuntários

dos nossos fisiologismos brutais.

 

Gritos rompem silêncios

e insistem que a liberdade existirá,

que a igualdade virá,

que as fronteiras desaparecerão,

e que desarmadas as multidões,

os grilhões exterminar-se-ão.

 

Lá fora, a rua não suporta mais

alguma coisa que não se vê,

que não se crê,

mas que não se pode mais conter.

 

Abstratos, os olhares revelam

a magnitude de um tipo estranho de desesperança

que um dia se cansa

e de maneira afoita se lança

fisicamente às grades

que protegem um poder

que não se sabe aonde está,

ou o que seja, ou quem.

 

Então vasculham a rua inteira,

a pátria inteira, o mundo,

o universo de cada pedaço de um sistema

que imagina sempre novas fórmulas

para nos condenar e nos conter.

 

E do silêncio ao grito,

do papel ao face, ao infinito

os ideais que se confundem nas faces

e se alastram daninhos

qual fagulhas de uma luz

que nasce em nós

pra desatar a escuridão

dos nossos descaminhos.

Páginas 28 e 29 

 

FLOR FORA DE HORA

 

Queremos o dia seguinte

porque nele moram as hipóteses,

as coisas, as paixões e as incertezas.

 

O livre arbítrio títere do hoje

implora pela liberdade do amanhã,

que guarda os conflitos nos sonhos,

enquanto regamos um novo jardim

que não aflora a flor fora de hora.

 

Queremos o instante seguinte

porque dentro de nós

presságios nos avisam

que somos infinita transcendência.

 

A sentença do instante instável, lá fora,

é espera e eternidade,

miragem provável

de felicidade inimaginável

já que o hoje pouco existe

e o futuro é um tempo sem fim.  

Página 30                                                             

 

FOLHAS SECAS

 

Enquanto olho a rua,

na vidraça, a minha face

é só reflexo do coração

que não se enxerga nu.

 

Na alma, meio a vadias sensações,

vasculho em cada transeunte

o que nem mesmo sei de mim

por entre públicas ilusões, que à deriva,

enrustem fatos que não podem ser sonhados.

 

Os cães, as folhas secas,

os cios nas calçadas,

as pressas que disfarçam medos

entre andarilhos e fadas.

 

Faces que se trombam enquanto se procuram,

mas ninguém me vê no que me assisto

nestas representações nas ruas que me arrastam

para o meu destino, único, solitário e intransferível.

 

A vidraça fumê me esconde do mundo

refletindo a minha alma que se expande pelos olhos

que sem brilho só ofuscam

o que busca o incansável coração em lida

pois que não se enxerga a se debater

para pulsar outra emoção que justifique a vida.

 

E enquanto isso,  espio a rua

procurando a minha face nua

que o tempo escondeu

para que o espelho me apresente

a cada instante

um personagem diferente

que nunca sou eu.

Páginas 31 e 32

 

GEOGRAFIA DA ALMA

                                                        

No meu amor mora a paz,

moram os sonhos dos mártires

que em vida a cada instante

abalaram tiranias

vislumbrando no horizonte insolúveis utopias

para que a liberdade inconstante

se tornasse a amante do raiar de novos dias.

 

No meu amor há flores de indistintas cores,

o meu amor é um jardim sereno

de infinitos amores.

 

Um canto impera luzidio

no meu amor, ameno,

pois não é feito de espera

e se refaz, ainda que arredio,

a cada instante pleno.

 

No meu amor há um mar de amar

banhando os continentes do coração

para tornar da geografia da alma

um hemisfério de luz e ilusão.

 

O meu amor, reluzente,

é o sol da terra, é o sal dos corpos

no suor de cada relação ardente.

 

O meu amor é rarefeito e veemente

porque é feito de paixões.

Ele é silêncio, é o ato, é o momento,

interlúdio das canções,

ele é a eternidade,

pois ainda que vire saudade,

alimenta a razão do batimento

de infinitos corações.

Páginas 33 e 34

 

LINGUAGENS

 

Na noite há medo e solidão.

Incertos, tememos a linguagem do tempo

quase sempre à toa.

Fluídicos sentimentos,

lembranças , passado intemporal

que como ave voa.

 

Ilusórios, lembramos das mães,

das brincadeiras, das indiferenças,

das incógnitas que é ser

um bicho que mata e ama,

acaricia e abate,

apaixona-se e estranhamente esquece.

 

Aloco-me em meio aos semelhantes

e procuro me amansar por dentro pra não ser hostil.

Sinto-me vento porque poetizo o intento do ser

que nunca sabe além do que pressente ou vê ou viu.

 

E me revisito criança nas estações atrás das rugas,

inocente embrião de múltiplos pequenos pecados

que condenam a liberdade por aquilo que se crê.

 

Indiferente a isso ou àquilo,

como a flor que nasce indiferente ao jardim,

aguento as coisas como elas são.

Redesenho outras linguagens

e reviro a poesia inata em mim.

 

Tolero os seres como são,

tolero-me, às vezes,

toleram-me,

às vezes não.

 

Não sou e não serei o nada das indiferenças.

Grito o possível dentro do silêncio invisível

de cada instante que a verso teço

para interagir com o desconhecido

que o instinto indica.

 

Sósia de mim,

me desconheço

com a liberdade plena

de uma próclise indevida

em uma vida onde os semelhantes

não exercem uma língua una

e em decorrência a escuridão se instala.

 

Há um abismo entre a audição e a fala.

 

Somos os apóstolos de uma crença inócua em nós

que não desata a fé inabalável

que removeria as montanhas das nossas almas más.

 

A palavra é infame

e não importa a língua

em que tal grito inflame,

a libido que derrame

a falta de vontade de viver

o que se ame sem convicção

ainda que o nosso tolo coração proclame.

 

A lua é só um pó na noite

que transcende o entendimento,

é a escuridão de quem não vê

ou não entende o sentimento

que jamais será o verso, a razão,

mas que será eternamente alguma arte

que traduza a poesia pra encontrar

uma linguagem que acalme o coração.

Páginas 35, 36 e 37

 

MOLDURA

 

Há uma fresta

que reluz o dia

entre o batente

e a fechadura.

 

Dentro do quarto

o sentimento imensurável

de uma vida que se perde

e que perdura.

 

O corpo lento, frágil,

a vida dura.

Encenações dentro de um quadro,

uma moldura.

 

O coração dormente

embebedado pelos versos

de um poema de loucura.

 

A olhar a fresta

o outro lado é um vazio intenso

frente a um medo intermitente

que jamais tem cura.

Página 38

 

NANQUIM

 

Procuro uma espada

de palavras  que me deem respostas,

algo pontiagudo, verso vil,

como antíteses de paixões opostas

em um falso sonho hostil.  

 

Mas em minha emoção

só vem esferas,

feras que não ferem,

ferimentos indizíveis

e me entrego frágil

no olhar que escamoteia

uma aurora azul de anil.     

 

Procuro uma fada

em um alguém qualquer

desritmado nestes tons de cinza

que já fui ao espiar dentro do olhar

o procurar de uma mulher.

 

Sou meia lua,

sou inteiro espadachim,

sou como espada de palavra quase nua,

mas na pintura eu sou a estrada,

o descaminho,

eu sou  uma estrela de nanquim.

Página 39

 

O ARQUIPÉLAGO DO TEMPO

 

Algumas saudades embalam

o meu olhar distante

a se perder no infinito incerto

e é só assim que não me sinto só.

 

O meu coração de plumas,

no concreto dos momentos

despedaça os sonhos absolutos

enquanto que o passado estático

se eterniza em meu olhar carente

que se observa em um espelho

onde não há mais nada.

 

Imagens de momentos

em lugares com pessoas que partiram

perduram um relativo tempo

em dimensão perpétua

já que o peito não esquece.

 

E o meu coração,

essa casa vazia com varanda a céu aberto,

esse arquipélago de lembranças

com resquícios de felicidades,

arrasta os requintes de uma eternidade

que ironiza a nossa passagem

por entre os instantes em infiéis imagens

sobre o que hoje não existe mais.

 

Alguns endereços abandonados

espiam as ruas

e refletem as mesmas saudades

que jamais permitem

um poema sobre solidão

exclusivo

para cada casa velha abandonada

por não ter sobrevivido ninguém.

 

A colisão entre o silêncio

e os fatos que se foram

biblifica as almas dos incautos.

 

E por entre os escombros

que avistamos por dentro e fora de nós,

vasos em varandas sem pintura,

castiçais que não aquecem,

pois que a chama não perdura,

um santo pendurado na parede nua,

uma gaiola sem canto,

o desencanto na foto que restou,

pois que as dores, as felicidades,

tudo o que ali havia passou.

Páginas 40, 41 e 42

 

O BRINCO

 

Na noite, cato, alheio a tudo, a tua mão

que faz pulsar os meus mistérios,

meus desconhecidos adultérios

a ressuscitarem o que nunca fui. 

 

Sereno mato a minha dor

e estrangulo quem não sou

para saber de mim.


E no outro dia, à luz do sol,

eu passo o sentimento a limpo,

verifico novamente se é um sonho

e acordado brinco

revivendo a tua mão em mim

e o meu amor intensifico

enquanto a minha, num deleite,

afagava o teu brinco.

 

Era de fato

o nosso ato impuro

no silêncio puro grito.

No meu peito o teu calor

fazendo aquilo que era dor

se transformar em infinito.

Página 43

 

O FATO E A FICÇÃO

 

A vida é o fato.

O sentimento, a ficção.

 

Sinto cactos na alma

sobre os quais arrisco versos

brandos.

 

Grito de espinhos

qual espadas que acirram silêncios

num deserto de sonhos

com miragens e belos

por uma arte insensata.

 

Há sede nas flores

que brotam daninhas da inspiração.

 

Sonâmbulos pesadelos

confundem o real

que paira no imaginário

de uma ficção que se vinga

se fingindo de fato

por de fato ser a ficção.

 

Invisíveis os sentidos

harmonizam

o insensível deste procurar.

Paixões que deturpam realidades

e realidades que inviabilizam paixões.

 

O sentimento é de fato.

A vida, uma ficção.

Páginas 44 e 45

 

O INEFÁVEL DO TEMPO

 

A vida,

lúdica e contraditória,

faz da poesia

uma oratória ineficaz,

mas necessária.

 

O instante inelutável

é um poema concreto

à deriva no inefável

do tempo.

 

O verso inepto capta

a impressão das coisas

que são sempre

imensuráveis.

 

Ah! Nobre poesia

que nem mesmo

codifica a luz do dia,

mas que a alma intensifica,

já que a vida é passageira,

mas a poesia fica! 

Página 46

      

OÁSIS

 

Acordei e o meu jardim não tinha cor.

Flores sem tom, à brisa, vistas da janela,

vertiam saudades em pétalas de arrependimentos

sobre o que não foi feito,

não foi dito,

não foi nada.

 

Na contramão das horas,

o meu olhar, parte do horizonte incerto,

a se perder à captura de algum perfume

para a alma infértil.

 

Plantei o pé no pó de alguma estrada

sem saída e àlém de mim não fui.

 

Incertos descaminhos de paixões não ditas

e gritos expandidos por dentro

do vazio intenso de um coração que peca

por querer demais o que não há.

 

Em meu jardim de aromas vagos

uma ave de rara beleza e sem asas

a olhar, sem horizonte, o azul do céu

enquanto plana no infinito o voo imaginado

como pássaro condenado pelo canto

que o torna réu .

 

Estranho pressentir a me contaminar

de sonhos possíveis e improváveis!

E sorrateira, a poesia a me espiar por dentro,

instintiva, não vê que à face uma lágrima escorre

entre rugas e tensões.

 

Morre um pouco mais o meu jardim

a cada olhar que não enxerga o que tenta perceber,

já que o poema me impõe num verso branco

que as flores sempre estiveram lá e ninguém viu,

como um deserto de miragem

com um cacto à margem

de um oásis que nunca existiu.

Página 47 e 48

 

O QUINTAL

 

Cerceio incertamente a medida dos meus passos

pra contê-los no quintal dos meus instintos

tresmalhados de emoções.

 

A razão da rua a escorrer os homens

esconde medos invisíveis

na clausura da dormência das nossas paixões.

 

O meu quintal, seguro ou não,

os meus passos em perigo prende.

…Cauteloso caminhar

no quadrilátero do meu coração.

 

Pontiagudos sentimentos sobre o que não sei

neste latifúndio de lembranças

e procuras muitas vezes vãs

no vago do que lembro dos esconderijos

sobre os sonhos que não realizei.

 

Segue o céu o meu olhar ao léu,

por entre as nuvens

que caminham sempre ao horizonte incerto,

enquanto busca outro olhar

pra liberdade não virar miragem

no infinito de um quintal deserto.

 

E posseiro do que há dentro dos muros,

para além de mim não vou.

…Face casmurra, sem lirismo

a camuflar-se em desapegos sobre o que não sou.

 

E não conto ao poema em mim desritmado

que há versos quase alados que viram canção,

assim como me guardo deste mundo cão

não abrindo aos sentimentos

as porteiras que fazem fronteira

com o risco das calçadas

que margeiam as esquinas do meu coração.

Página 49 e 50

 

O SONHO QUE AINDA RESTA

 

Tivemos a chance de mudar o mundo

quando ainda tínhamos grandes sonhos

que tornavam as utopias pequenas

e elas ainda eram horizontes possíveis

e as teorias escapavam das páginas

para impulsionar os corações

que tremulavam como bandeiras

de uma igualdade provável.

 

Tivemos a chance

enquanto acreditávamos

que as fronteiras eram frágeis

e que até mesmo a América Latina

era só um pedaço do mundo

aonde plantaríamos a liberdade

e ela viraria uma ordem para o universo

que partiria da nossa rua

impulsionada pela juventude do brilho do nosso olhar.

 

Tivemos muitas chances

enquanto avistávamos no horizonte,

a cada amanhecer ou a cada verso,

uma nova possibilidade de infinito

que nos impregnava e às palavras causavam

a leveza do voo que não podíamos conter.

 

Mas hoje, amor, vamos dormir mais cedo,

o silêncio impera ainda antes do anoitecer

e apesar dos bombardeios

o sono se faz necessário

para que o esquecimento em ânsia vã

revitalize o pouco de sonho que ainda resta

para um provável amanhã.

Páginas 51 e 52

O TEAR

Na lembrança

um campo de girassóis,

um pôr do sol tecido de paz

e o poema de um menino

que não existe mais.

 

Na correnteza dos dias

o ruir de alguns sonhos

que não teceram realidades,

o fluir de esperanças

que foram despencando

como pétalas que se despedem da flor

enquanto fertilizam o jardim

para que a vida se reedite.

 

A mãe na janela, à boca da noite,

a entrelaçar olhares no horizonte incerto,

a lamparina a tremular

figuras na parede envelhecida,

a fome de alguma coisa que não se tem

a fazer teias sobre a ilusão.

 

Lá fora, o som da mata no escuro

insistentemente a lembrar

que o futuro é sempre o porvir

já que o presente o tece lentamente

enquanto que se desfaz.

 

Ao amanhecer,

o fogão a lenha reaquecido,

o cheiro do café

anunciando a continuidade

do tecer da vida

que tecida

se desmancha em lembranças

sobre ausências irreversíveis.

Páginas 53 e 54

 

O TECIDO

 

Não trago promessas vis

para vislumbrar os olhos de ninguém.

O acaso da palavra é o único alimento possível

para os versos que escapam

do que todo poeta finge, mas não tem.

 

Teço os sonhos

com baobás e pedras e paixões.

 

Não esperem da poesia alguma verdade

nem tão pouco fortalezas ou revoluções.

O poeta mente inclusive em ilusões

quando vê belezas que nunca se viu

em coisas que são naturalmente feias,

mas que servem ao belo do poema

que também é feio fora do contexto que o pariu.

 

A poesia se tinge de figuras,

que inteligíveis à emoção profana,

transcendem à capacidade das linguagens

desta espécie tão somente humana.

 

“Uma pedra no caminho”,

“uma flor que nasce no asfalto”

são exemplos típicos

desta maquiagem que o poeta

ensandecido proclama para cutucar

o nosso olhar de mar e icebergs.

 

O cenário, quase sempre, é a procura

vasta e profundamente inatingível.

 

Inteligíveis, pobres corações

derramam em versos

o que a prosa não atinge

e o olhar não conta quando vê.

 

Bárbaros tecelões de textos

entrecortados por versos banais,

que diversos às prosas coloquiais

vasculham as profundezas que tecem as procuras,

que de nós indesatáveis

se desmancham em laços amenos

que ao poeta enfeitiçam como rituais,

qual paixões ou outros sentimentos

pautados por  irracionalidades

passageiras e estranhamente temperamentais.

Páginas 55 e 56  

 

O TEMPO

 

O hoje é sempre um dia estranho,

um presente desconhecido

e eu não o reconheço passando em mim,

passado em nós

como um labirinto sem fim.

 

Amanhã, talvez eu o entenda,

mas poderá ser tarde demais.

Já não será o hoje

e implacavelmente não caberá mais decisão.

 

O tempo não espera nada ou ninguém

e é somente uma lembrança

que nunca mais retorna à praticidade do que é real

em cada presente deste imaginário,

no qual somos apenas coadjuvantes sem roteiro

para as cenas inimagináveis desta peça

que repete sempre o mesmo final.

 

Caminho pela areia fictícia de grãos desconhecidos

à margem de um oceano de miragem

com águas e ares e aves e cheiros

que jamais estarão nos mesmos lugares

em momentos distintos.

 

O instante é único o tempo inteiro,

universal e inevitável.

Eu, múltiplo, meio de bem, meio de mal,

caminho sobre o impreciso das coisas

e dos sentimentos que despencam

neste dia sempre sobrenatural

que é o hoje vindo do ontem para o amanhã

qual as ondas deste oceano que me toca

vindo sei lá de onde para aportar em outras margens

amanhã.

 

E à revelia de cada segundo,

ingenuamente procuro o estático

naquilo tudo que se move por dentro de mim

enquanto que observo a complexidade da vida,

sempre inusitada, voraz, veloz, vaga, passageira…

E eu, sempre o primeiro a vivê-la nos segundos

que alicerçam a eternidade esperada.

 

Mas apesar de estranho ao dia

faço do desconhecido um achado

de sonhos que contaminam os olhares

repletos de descobertas e de segredos

que contagiam e direcionam o prosseguir.

 

E caminho pelos obstáculos

deste presente que se move

removendo os tentáculos das insônias

que noite a noite por entre o dia a dia

modelam a espera pelos amanhãs

que outros hojes virarão

para que tudo isso possa infinitamente

recomeçar.

Páginas 57, 58 e 59

 

O TEMPO E A PEDRA

 

No canto da pedra,

o canto do mar a bater seu encanto

de sons e espumas

que espalham perfumes

que em ondas e brisas

na praia inebriam um parco sonhar.

 

A pedra, que adora ficar no caminho

das águas do mundo e do mar,

é bem maior que o poeta

que só eterniza o poema

que faz de uma pedra uma onda

e da onda o sonhar,

que vai pela areia da praia

de cada infinito segundo

indiferente, às vezes, à dores do mundo

ou da eternidade das ondas

de cada pedaço de mar.

Página 60

 

OS JARDINS OS SONHOS

 

Somos um pouco do pouco que restou

de cada um que fomos em cada momento da vida

feita de pedaços e olhares e jardins e esperanças

que se despedaçam refazendo-nos

a cada instante que fica para trás.

 

E somos um pouco das paixões,

sempre inusitadas e iguais,

um pouco das felicidades, das tristezas,

das utopias que se esvaíram no tempo

que nos determina ineficazes

como pétalas de flores que não existem mais.

 

E meio a acertos e erros e semeaduras,

somos alguma coisa do arrependimento

por aquilo que não fizemos,

ora por medo, ora por alguma valentia falsa.

 

Somos um pouco de cada (in)decisão

que nos guinou um pouco mais para lá

ou um pouco mais para cá do que viramos

sempre de forma irreversível e irrefutável

como o galho que torto envelhece

e ainda assim frutifica apenas porque floresce.

 

A cada passo, contraditórios, semeamos

o nosso império de medos e contradições

acerca do que não vemos no além

nem mesmo do nosso jardim

e em decorrência dos sonhos que se desfazem

viramos pegadas ao vento em um deserto sem fim.

 

E pouco a pouco

um pouco de cada um

que acreditávamos que  éramos

vai na lembrança construindo

um outro sempre múltiplo a cada instante

de cada presente que nos determina

a futuros vários, vorazes, velozes…

que vão ficando em algum canto do coração.

 

Mas somos um pouco do nosso quintal,

um pouco do nosso bem, do nosso mal.

Da roupa no varal, do cão de estimação,

da tradição, da propriedade que nos prende…

Somos um pouco daquilo tudo que nos rende

entre os nossos desprendimentos e ambições.

 

Somos muito do que queremos

e vivemos muito pouco do que temos

porque tememos os riscos

largando os sonhos sempre para um depois

que nunca chega

como a árvore que sonha com o mar

sempre plantada na beira de um rio,

como jardineiros de oásis

em um místico deserto que nunca existiu.

Páginas 61, 62 e 63

 

OS SONHOS E OS CORDÉIS

 

Inúteis os meus versos metrificam

aquilo tudo que não vejo sobre o que tento crer.

Esparsos sentimentos que me determinam

a cada fase da vida para que novos tormentos

venham acolher o que nem sei se resta

do que não fui sem ver, sendo.

 

Inviolável, o poema aguarda por dentro do que sinto

sentenciando-me,  inacabado,  ao impreciso.

 

As flores que brotam em mim

mostram-se daninhas.

Perco os afetos, feto que sou,

no útero do que tento construir com palavras

que não traduzem o imaginário do meu jardim.

 

Assim, me pressinto quase nada.

Um ser de véspera,

sem amanhãs ou passados,

embora todos os instantes resistam nas lembranças

que procuro não enxergar

sobre o que parcamente vejo das coisas.

 

 

Sou um índice que nada explica,

algo que se extraviou do caminho,

destino casual

decorrente das minhas imprecisões.

 

Contudo, não quero nada além do que estou.

Completo-me vazio a contemplar-me

mais do que aqueles

que disfarçam o vago

alimentados pela fome dos olhares

que vigiam as ruas

meio a noites de tempestades.

 

Traço o que quero para o meu dia

indiferente aos comandos

que me querem fantoche

placidamente adaptado aos cordéis.

 

Não! O meu livre arbítrio títere

não está à disposição dos mártires

ou das hipocrisias que encantam

os corações que já nasceram cruéis. 

Páginas 64 e 65                                                     

 

PÁGINA

 

Às vezes, há a intuição de se virar a página.

Mesmo que seja pela simples curiosidade

de vermos a próxima,

em branco, meio a tanta escuridão.

E ainda que a iniciemos com parcas rasuras

ou com leves traços a nanquim

à caça de um desenho qualquer,

os sonhos a colorirão.

 

Muitas vezes temos que não temer

ou temer tanto que nos impulsione a partir.

Mesmo que o novo caminho

ainda não exista ou que a escuridão insista

e a sonhada estrada seja apenas

uma vaga vala de intenções de travessia

que o novo dia em nosso coração persista.

 

Algumas vezes, o novo pode ser uma ilusão,

mesmo que assustadoramente

possa demolir os ranços

do estágio insosso que gera

a apatia da estagnação.

 

Mas a página vindoura, virada

clama por existir alada,

ainda sem linhas, rimas,

ainda sem nada.

 

A página da vida é sempre inusitada,

só para mostrar o infinito

que é o reinventar do grito

que é fazer do silencioso aparente descaminho

que é decidi-la sozinho

para reencontrar na estrada

o canto do passarinho

que encanta o desencanto

para fazer bater as asas de todos

de volta pro mesmo ninho.

Páginas 66 e 67

 

PARA ALÉM DAS SOMBRAS

 

E na junção dos sonhos dos homens,

em sombras, no infinito,

fica estampada

a repercussão dos choros

como sons de um grito

que se expande

enquanto que em nós se esconde

para que no silêncio, em coro,

vire tão somente um intrigante delito.

 

Na metáfora, na anáfora

prosopopeisamos-nos coisas

e nos damos vida,

sentimentos que não temos

mas que executamos em cada conflito

para nos contrapormos às sombras

no subjetivo do que não foi dito.

 

Mímicos de nós nos desatamos

nas figuras das linguagens que imaginamos

como entre a mão e a corda há o atrito

que se propaga em vaga melodia

para que à luz de cada dia

a poesia como em um rito

se consagre em contraponto

como um verso divinal maldito

que caminha pela eternidade

divulgando a possibilidade

de que haja, àlém das sombras,

em cada parte, em cada arte

um pedaço do infinito.

Páginas 68 e 69

 

PAREDES DA ALMA

 

A conivência na convivência é a ordem do dia.

A verdade é impelida pela mentira que impera

em nome do bem para o exercício do mal

que opera a espera pelo sobrenatural.

 

As televisões filmam os medos

materializados nos olhares que silenciam

em anomalias múltiplas

para a anormalidade

da felicidade coisificada para poucos.

 

Viver virou um risco

e os segundos são contados

com risquinhos nas paredes

dos presídios das almas,

sem ressurreição ou arrependimento

à espera da liberdade de sentimento

e da eternidade que existe

em cada momento.

Página 70  

 

PEDAÇO DE CÉU                                              

 

Por entre as linhas das pipas

os sonhos cortantes nos instantes

do menino que se foi,

as descobertas, os esconderijos

nas trilhas das armadilhas,

o tremular daquilo que seria

um dia, a vida a se esvair

para dormir apenas nas lembranças.

 

A tarde morna no calor da infância fria

a distrair o olhar

no horizonte intenso

de procuras que bailam

enquanto que as pipas

cortam-se ao léu

em nome da liberdade

de cada pedaço de céu.

 

No menino que eu via

não havia

dia de desesperança.

A vida era uma dança

de rabiolas e sonhos

que ficaram na lembrança.

 

No peito,

um sentimento cortante,

um coração

feito uma pipa gigante

difícil de se empinar,

preso na linha do instante

que insiste em se quebrar.

Páginas 71 e 72

 

PÉTALAS AO VENTO

 

Todos os dias são novos, raros,

inusitados nos cheiros, nas harmonias e cores.

Espantosamente nascem únicos e envelhecidos

pelas sensações dos dias anteriores

e arrastam as histórias dos homens

para que novas paixões, descobertas, evoluções

aconteçam sempre no dia seguinte.

 

Os dias são flores no jardim do tempo.

Os instantes, pétalas que voam ao vento

que não volta e nunca é o mesmo.

O tempo é o vento da vida que se esvai.

 

Cabe no dia a intensidade do sonho,

a decisão do momento,

as esquinas que os sentimentos determinam,

os cruzamentos que nos indicam o aonde ir,

sem retorno ou remorsos meio às indecisões.

 

Os dias se entrelaçam

para que o tecido do tempo

retempere nossas almas

sedentas pelo dia seguinte

que vem renovado pelo descanso da noite

que adormece as lembranças do ontem

para suportarmos os sonhos do amanhã

que pode nem mesmo acontecer.

Páginas 73 e 74

 

POESIA DO DIA

 

Sobre o meu muro

um bem-te-vi

arranja os primeiros raios de sol

que quase ninguém percebe.

 

Latente

o tempo espalha folhas secas

pelas esquinas do meu quintal,

que como tantos,

guarda o que quase ninguém possui.

 

Do outro lado da calçada,

um olhar reflete um lembrete

de esperanças e medos

em minha incerta direção

que flutua entre um verso

e as coisas novas deste amanhecer.

 

A poesia do dia inédito

envelhece embrionária

e se disfarça em plágios

a cada inusitado instante

que não sobrevive às rotinas

do raiar nas sombras.

 

Repetitivo, me reinvento

revirando lembranças escusas

nos compartimentos da alma

que tenta me reencontrar

naquilo tudo que perdi em inúmeras outras manhãs

por não ter tido coragem, meramente, 

de abraçar a vida por inteiro.

 

A poesia do dia novo acovarda-se

diante das incertezas

que não poetizam o vago

e aguardam o novo pôr do sol.

Páginas 75 e 76

 

RUA DOS DIAS

 

Pela rua dos dias

passam os impérios,

as idades, as cidades,

as maldades dos homens

e seus mistérios.

 

Pela rua dos dias

passam as pazes passageiras

que são prenúncios das guerras

que dormem em nossas trincheiras.

 

Pela rua dos dias

passam as lembranças

que dormem em nosso coração,

passam os sonhos,

mesmo quando não passam,

porque passa sempre a ilusão.

 

Pela rua dos dias,

a possibilidade efêmera

de eternidade ou de indigência,

por dentro ou além do mundo,

proporcional ou inversamente

à regência dos atos que cometemos

a cada segundo.

 

Na rua dos dias

pode existir contramão

e em sua margem, de passagem

uma multidão em viagem

fugindo da própria imagem de escuridão,

como se fosse a ilusão da miragem

em um deserto sem sol nem aragem

aonde até a linguagem carece de evolução.

Páginas 77 e 78

 

SEGUNDO PLANO

 

Um vida atrás

da palavra certa

para acalmar na alma

as incertezas.

 

O verso, sempre a um palmo da emoção exata,

perde-se no caminho

entre o sentimento e a mão

sem eternidade alguma.

 

Algumas tempestades que passaram,

alguns entes,

sonhos, vontades, algumas utopias

que não viraram coisa nenhuma.

 

Em cada encruzilhada, em cada trilha,

em cada estrela que brilha,

em cada instante

as opções que foram relegadas

a um segundo plano que jamais veio a existir.

 

Vamos por aqui, por ali?

Caminho sem destino certo,

implacável ir sem placas

e sem retornos nesse campo aberto.

 

A cada passo o infinito das possibilidades,

as portas de um livre arbítrio arbitrário

e eficaz.

 

Uma vida atrás do silêncio certo

para acalmar as palavras

que apontam para as incertezas

das miragens que refletem

um infinito sempre perto.

Páginas 79 e 80

 

SONHO SEM FIM

 

Alienado em lembranças

que já não procedem

vago um presente

de espera incalculável.

 

O vazio exato que me invade

é vago, vasto, profundo

e estranhamente inviolável.

 

A vida, uma rotina de noites e dias

sem uma ordem precisa.

Uma espécie de esperança

sobre o que não há.

 

No peito, uma dor ruim,

no olhar, o amor

que indica o mesmo intenso sentimento

que insiste em coexistir

com o que é real de forma inverossímil

como a flor que espia a rua presa em um jardim.

 

Os sentimentos,

as sensações incompartilháveis

vão dando norte ao tempo

que se impõe aos pesadelos

como se o fim de tudo

fosse o desconhecido

de um sonho que não teve fim.

 

Masmorra de alma,

degredo de liberdade ?

Denso olhar a procurar-se

na própria órbita

indiferente ao universo que o contém.

 

A realização sempre a um passo do querer,

o bem-querer distante,

a felicidade movediça sempre adiante

e o tempo a cada instante

a desencadear a vida

como o descarrilhar de um trem.

Páginas 81 e 82

 

TEIA DA VIDA

 

Defronte ao pôr do sol,

a vida ainda parece a mesma,

mas na teia da aranha

aparentemente estática

alguma coisa mudou.

 

Radiante, a divindade se impõe

aos olhares da insensatez humana,

embora a sedutora teia

seja o reflexo de quem espera

o alimento vivo para devorá-lo.

 

A natureza, única e eternamente virgem,

desdobra-se em recriações plenas,

que a aranha, insossa,

de seu esconderijo espreita.

 

Defronte ao pôr do sol,

o vento que suspira a brincalhona solidão

de um menino que passou

e que hoje se vê preso

a um tear de sonhos entrelaçados

qual um bicho peçonhento

que o distrai enquanto tece memórias

que não servem para ninguém.

 

O sol, a estrada e o mar de areia cristalina,

que em constância se movem,

são sempre os mesmos.

Apenas a teia da vida

lentamente a se mover

na intenção da captura.

 

O olhar, a timidez diante de um mundo estranho,

a raridade de cada sentimento único

também são eternamente os mesmos,

no homem e na aranha,

a nos repartir em múltiplos tentáculos

enquanto que partes de nós

se exterminam a cada segundo

no corpo que se renova

e nas lembranças que ficam

como se fossem múltiplas teias

do tempo que nos espreita

enquanto que distraídos,

na maior parte das manhãs,

não enxergamos

nem mesmo o pôr do sol.

Páginas 83 e 84

 

 VÁLVULA DE ESCAPE

 

Durmo como quem, por quietude,

se alimenta do desligamento dos fatos

para que a reedição do dia seguinte

se estabeleça plena em um sonho de imprecisões

que desnorteiam a realidade

para apenas no espelho gerar dúvidas

entre a face que vejo

e os estranhos que carrego sem determiná-los

com a emoção que necessito para ser-me

sem sentir-me traidor.

 

As energias vagas da velhice

incandescem as juventudes

que a lembrança guarda por um tempo

e que depois esquece.       

 

O limite do meu quarto

ou do meu tempo,

que faz fronteira com a rua

enquanto as horas badalam,

é o meu infinito e a minha liberdade.

 

Sonambulismo de alma.

Caminhar impreciso pela sala

nesta vastidão de sentimentos

que desdenham dos meus esconderijos.

 

As sexualidades, as vontades,

as ideologias, sonhos…

quase tudo em vão,

quase nada há mais no coração

que um dia se alimentou de paixões.

 

O vago que se deposita

sobre o fato de cada intuição

sedimenta o que a mente apenas tenta

sempre sem sentir

ou se comprometer por ter sentido

o permitido dos proibidos que nos desnorteiam.

 

Válvulas de escape

geram o sono necessário e absoluto

para o cumprimento

de cada instante de desligamento

enquanto não volta a poesia.

 

Daí a noite absoluta. Dia e noite

em um dormir pleno e necessário

à espera do raiar do olhar no novo dia.

 

Madrugadas e primaveras se confundem

com invernos irreversíveis.

Os nós em nós perpétuos

em cada pedacinho da existência

em múltiplas estações

indicam direções diversas.

 

Inquieto acordo em tempestade.

Passageiro de mim

caminho pelos cantos destas turbulências

e sobrevivo dos esquecimentos

para não ver que o coração

não se comporta com a devida quietude

rumo a sonhos de sabedoria

e desprendimentos  que neutralizem

do vazio o afã

para que a vida se reinvente

distante dos olhares nos caminhos

que nos chamem para qualquer busca vã.

Páginas 85, 86 e 87 

 

VEEMÊNCIA

 

A amplitude da minha linguagem

determina o tamanho

do meu medo, do meu muro

ou do meu infinito.

 

Ela acalanta o meu silêncio,

ilumina o meu escuro

e instiga

a veemência do meu grito.

Página 88

 

 

POEMAS PREMIADOS: 

CARNAVAL

3º Prêmio Literário de Poesia Portal Amigos do Livro
Portal Amigos do Livro e Scortecci Editora
Publicação em Antologia

Concurso de Poesia A Palavra em Prisma
Prefeitura Municipal de Guarulhos-SP
Menção Honrosa 

GEOGRAFIA DA ALMA

XXVIII Concurso de Poesias de Mogi Guaçu-SP
Biblioteca Municipal João XXIII 
Publicação em Antologia

NANQUIM

5º Prêmio Literário de Poesia Portal Amigos do Livro
Portal Amigos do Livro e Scortecci Editora
Publicação em Antologia

O OÁSIS

1º Lugar No VIII Concurso Literário

Prêmio “Prof. Mário Clímaco”

Academia de Letras, Ciências e Artes de Ponte Nova-MG

O ARQUIPÉLAGO DO TEMPO

16ª Edição do Concurso de Poesias da CNEC – Capivari-SP

Campanha Nacional de Escolas da Comunidade

Publicação em Antologia

O BRINCO

XXI Concurso de Poesia  – Tijuca-RJ
Academia de Letras e Artes de Paranapuã – ALAP
Medalha de Bronze 

O INEFÁVEL DO TEMPO

VI CLIPP – Presidente Prudente – SP
Secretaria Municipal de Cultura e Turismo
Biblioteca Dr. Abelardo de Cerqueira César
Publicação em Antologia

O SONHO QUE AINDA RESTA

XXIV Concurso de Poesia 
Academia de Letras e Artes de Paranapuã – ALAP
Menção Honrosa

O TEAR

3º lugar no VII Varal de Poesia UNIFAMMA
Faculdade Metropolitana de Maringá-PR

PARA ÁLEM DAS SOMBRAS

XXVIII Concurso de Poesia Brasil dos Reis-RJ
Ateneu Angrense de Letras e Artes
Publicação em Antologia

POESIA DO DIA

VIII CLIPP – Presidente Prudente – Ruth Campos
Secretaria Municipal de Cultura e Turismo
Biblioteca Municipal Dr. Abelardo de Cerqueira César
Publicação em Antologia

Páginas 91 e 92 

 

ALGUMAS DENSAS OBSERVAÇÕES SOBRE

“A RUA DOS DIAS”, DE PAULO FRANCO

Bosco de Lima

      Um livro que se constitui em Poemas que resgatam os tons da infância, alimentando a alma daquilo que fora e já não é mais, implicando outras coisas, que se entropia naquilo que se quer ser.

     Palavras que vão sendo constituídas por outras palavras com sinonímia, fazendo ecos aos versos, tecendo os varais numa longa trilha de lençóis alvejados.

      Observo ainda, no conjunto de poesias de Franco, um passado que se esconde no presente que alimenta o futuro. Mas o que procurar agora se o “eu” contido no passado insiste em permanecer? Resta então constituir esperanças para que o “eu” se encontre com ele mesmo em um futuro… qualquer.

      Estranha vida esta que se deixa aprisionar. Mas como se libertar se o aprisionador é o próprio prisioneiro? Ou o coração que o prisioneiro não sabe… E se sabe, pratica renúncia do próprio saber.

      Trata-se de um adensamento de palavras tão bem escolhidas para acobertar uma vida em luta, assim, tal vida parece menos sofrida, menos inglória e presente aos homens, geralmente impuros.

      São tantas coisas guardadas na infância e na lembrança, são tantas coisas não ou mal resolvidas, que é preciso burlar tal tempestividade incerta para se equilibrar e ir adiante. Mas estas coisas marcam profundamente e querem insistir em ser, apesar de o poeta dizer não, e dizer sim, conciliando um passado irresoluto a um futuro inconsistente.

      Em geral poemas brancos, mas cantados densamente, numa melodia interna. Os versos que se constroem rompem com uma primeira olhada do autor, que se quer e se faz maestro das palavras.

      Mas de repente, um poema engajado, cantando as lutas inglórias que fazem parte das janelas do autor. Inconsistente luta circular que leva sempre a um mesmo lugar.

      A rua dos dias são as janelas da alma do autor. Que olha absorto a continuidade da descrença e da matança que ele sempre lutou para desfolhá-las e superá-las.

      A fragilidade do eu que se expressa na poesia é a busca do fortalecimento do ser, que se vê roído a cada caminhada, a cada obstáculo, a cada presente. A fuga do eu é estar no eu que se quer em outro, a busca de um amor utópico, a tentativa de se ver sem ser o eu e sem ser o outro.

      O que consiste em existir e o que existiu em mim e eu não fiz? É preciso responder isto, mas o faço por meio da poesia, a única que é capaz de adulterar meu sentimentalismo e minha objetividade, me pondo livre para observar. Meu poema é a arma questionadora de mim mesmo.

      O que une tais palavras jorradas por ironia, por dor e amor? O que unificam os versos e dão unidade aos poemas no decorrer das páginas que vão tremulando com tanta convicção? As ruas dos dias são os passados remotos ou presentes que guardam e acariciam a criança cerceada de possibilidades. As possibilidades de hoje são arregaçadas a ferro e fogo, ou com unhas e dentes, mas não esmorecem a força daquilo que não fui… daquilo que não flui.

      Enfim, são poemas de “um menino que não existe mais”, porém, insiste em ser e viver naquele que escreve sobre o menino sem deixar de sê-lo. Daquele menino “que se foi” sem ter ido, permanecendo assim, aborrecendo o aborrecido poeta que gostaria de se ver livre do menino que insiste em ficar… somente porque o poeta dele necessita. Concluo com o enigmático verso franqueano: “vago um presente de espera incalculável”.

                  Bosco de Lima é Doutor em Educação pela PUC-SP e docente na Universidade Federal de Uberlândia.

Páginas 93, 94 e 95

Breve Biografia 

                                                                 Por Thaís Franco 

PAULO FRANCO – Nascido em Santo André a 20 de agosto de 1960, passa a residir em Rio Grande da Serra a partir de 1964. Sua produção literária inicia-se ainda na infância. Em 1979, publica, pela Editora Formar, PLANO DE VÔO, seu primeiro livro de poesias, em parceria com Antônio Bosco e Dirceu Ramos. Em 1981, pela  Milesi Editora, publica, com Antônio Bosco , o livro AI-5, poesia engajada, que representa o momento de transição à abertura política do país. Forma-se em Letras em 1983. Em 1986 efetiva-se como professor de Língua e Literatura na Rede Oficial de Ensino do Estado de São Paulo. Forma-se em Pedagogia em 1987. Em 1988 especializa-se em Supervisão Escolar. Casa-se com Rita Franco no mesmo ano. Nascem os filhos Thaís em 1989 e Vinícius em 1991. Atua como Diretor de diversas Escolas. Nos anos seguintes, dedica-se à criação de NOTAS DAS HORAS, publicado em 1995 pela Scortecci Editora. Em 1999 lança PÉTALAS DE INSÔNIA pela C. Cranchi – Editores. Em 2000 é eleito vereador em Rio Grande da Serra. Renuncia ao mandato em 2001. No mesmo ano lança PAISAGENS DO OLHAR, obra prefaciada por Frei Betto e editada pela Alpharrabio Edições.  Muda-se em 2002 para Ribeirão Pires. Em 2005 publica em capítulos a fábula UMA ESCOLA FABULOSA no jornal Folha de Ribeirão. Em 2007 lança DO OUTRO LADO DO OUTRO, pela Espaço Editorial e em 2010 A QUARTA PAREDE pela Editora Multifoco, obra que teve diversos poemas premiados em nível nacional.  De 2011 a 2014 produz artigos para a coluna Ponto Final da Revista Mais Conteúdo, vinculada ao Jornal Mais Notícias de Ribeirão Pires. Em 2012 publica, pela Scortecci Editora, A MÁSCARA NO ESPELHO: Uma Antologia Inacabada.

Páginas 97 e 98