É deprimente, mas o Brasil perdeu de sete a três para o Cazaquistão e empatou com a Etiópia em quantidade de medalhas de ouro nas Olimpíadas de Londres e ainda tem gente que ficou triste apenas porque perdemos no futebol para o México em 28 segundos. Amargamos uma medíocre vigésima segunda colocação no quadro geral de medalhas e somos uma das maiores potências financeiras do planeta, apesar de sermos miseráveis em educação. Mais um pouco e perderíamos para o Azerbaijão. Perdemos em quase tudo, mas os meios alienadores de plantão reafirmam a cada instante que somos os maiores no futebol, mesmo sem termos jamais conseguido um ouro olímpico neste esporte. E o pior é que criam heróis aos montes antes mesmo que os atos heroicos sejam executados. Enquanto isso, nos bastidores das nossas corrupções, os atletas dos mensalões e os cachoeiras ficaram esquecidos. Isso sem contar que somos apenas o 53º colocado no Programa Internacional de Avaliação de Alunos e ficamos abaixo da média mundial em leitura, matemática e ciências. Já tem empresa com dificuldade de preenchimento dos seus quadros, porque os candidatos, mesmo quando diplomados, são analfabetos funcionais.
Mas seremos a sede das olimpíadas de 2016. A bandeira já está na mão do Rio que foi apresentado ao mundo, na festa de encerramento de Londres, pelo gari Sorriso que vendeu mais uma vez a imagem de um povo sambista, inculto e malevolente. Na mesma solenidade, uma rampa simbolizando o calçadão de Copacabana recebeu índios com cocares tecnológicos iluminados executando danças típicas enquanto que Iemanjá aparecia no palco para ser seguida por uma escola de samba que se misturou com a música “Nem Vem Que Não Tem” para representar o malandro carioca e no final receber uma top model sem sentido nenhum naquela pantomima que foi encerrada com o Gari Sorriso correndo para abraçar o Pelé.
É salutar ressaltarmos que a bizarra imagem reafirmada ao vivo para o mundo não é o retrato do nosso país porque não é a nossa realidade. Aqui os garis não passam o dia sorrindo. Alguns dependem de bolsa-miséria e mastigam migalhas. Os índios já foram quase que exterminados e os que ainda restam usam camisa do Flamengo e têm as suas culturas invadidas por religiões de homem branco. Isso quando não fazem tráfico de madeira e de outras riquezas naturais. A malemolência não é a nossa principal marca, já que trabalhamos muito para as empresas estrangeiras e as corrupções arrastarem as nossas riquezas.
Resta saber se em quatro anos é possível preparar atletas de ponta em uma pátria que trata a educação com desdém. Já não conseguimos formar professores em qualidade e quantidade suficiente para preparar os nossos jovens. As nossas escolas, em sua grande maioria, têm um formato físico e ideológico com um atraso histórico de séculos. E enquanto isso, vemos, adormecidos, uma enxurrada de dinheiro sendo derramado na modernização de estádios de futebol para a Copa de 2014.
Não podemos continuar esperando que os nossos atletas surjam ao acaso em decorrência de tratarmos a educação dos filhos da pátria com tamanho descaso.
“Tem desempregado novo na cidade,
mais algum rebento a viver de esmola,
corrupção na mão de outra autoridade
que colherá prisão por não plantar escola”
Paulo Franco
Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº 08 – Agosto/2012