Machado de Assis não pode mais ser encontrado em nossa cidade e também nunca foi visto na cidade vizinha. Nem Drummond, Neruda, Castro Alves, Clarice Lispector, Bertolt Brecht, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Augusto dos Anjos, Lima Barreto, José de Alencar, Aluísio Azevedo, Bocage, Sousândrade, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Vinícius de Moraes, Gonçalves Dias, Rubem Braga, Euclides da Cunha, Mário de Andrade, Cruz e Sousa, Murilo Rubião, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Fonseca, Fernando Sabino, Carlos Heitor Cony, Hilda Hilst, Adélia Prado, Ignácio de Loyola Brandão, Luis Fernando Veríssimo, Monteiro Lobato, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, Gregório de Matos Guerra, Ferreira Gullar, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Olavo Bilac, Camões, Florbela Espanca, Mário de Sá-Carneiro, Franz Kafka, Jorge Amado, Gabriel Garcia Márquez, Ligia Fagundes Telles, Fabrício Carpinejar, José Saramago, Fernando Pessoa, eu e tantos outros. Acho que os sonhos estão indo embora da nossa região, pois a única livraria que havia fechou. E não é a primeira vez que isso acontece em Ribeirão Pires. No caso de Rio Grande da Serra, nunca houve uma livraria.
Mas, apesar da carência de cultura, de arte e educação, ainda vemos pelas ruas alguns lelés da cuca que se misturam a autoridades. A miséria de alma é intensa. Porém também é intensa a disputa de quem sonha em amenizar este estado de quase barbárie. Vemos não sei quem do INSS, o Paulão da Oficina, o Nilson do Mercado, o Vicentinho do Mercado, a Diva do Posto, o Jacaré da Lagoa, o Copina do Trenzinho, o Maranhão do Kiko, o Saulo do Volpi, o Claudinho da Geladeira, a Lair da Apae, o Dedé da Folha, o Albino da Traansvaal, a Léo da Apraespi, O Muraki dos Japoneses, o Arnaldo dos Sapatos, a Inês do Lula, o Volpi do Chocolate, o Lucas da Monte Castelo, o Gerson da Igreja, o Gilvan da Igreja, o Paulinho da Chácara Coração, o Robson da Viola, o Banha do Partido do Dia, o Lelé da Cuca, o Fulano da Ficha Suja, o Fulano da Ficha Limpa, o Dono do Bar e tantos outros que o cidadão comum torce para que sejam eleitos e para o bem comum, alimentem a fome do povo não apenas com pão e circo.
Contudo, até então, a nossa região é constituída de bares, muitos bares e nenhuma livraria. A única que havia fechou e quase ninguém viu. É a falência da palavra e da visão. Talvez seja por isso que a saúde pública, a segurança, a educação, o trânsito, o planeta, os preços estão à beira do caos e também quase ninguém vê. Quanto tempo ainda resta? Quanto tempo ainda falta para que se veja que a evolução da espécie passa, necessariamente, por uma formação de qualidade, em especial no que diz respeito à cultura.
Ainda bem que há um imenso relógio sendo construído com o nosso imenso imposto no meio do Paço Municipal de Ribeirão Pires.
Paulo Franco
Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº 06 – Junho/2012