A cada cinco segundos uma criança morre em decorrência da fome no mundo. Acaso os urubus se alimentassem de crianças mortas, certamente não haveria urubus em quantidade suficiente para a faxina de um planeta vitimado pela ambição de alguns para o extermínio de muitos. E esse mesmo mundinho, inacreditavelmente, produz o dobro de alimentos que seriam necessários para saciar a fome de todos. Não consigo deixar de me sentir pequeno diante de números que denotam uma sociedade tão desigual.

         Porém, de vez em quando, em alguns lugares, gritos rompem silêncios e insistem que a liberdade existirá, que a igualdade virá, que as fronteiras desaparecerão e que as multidões desarmadas os grilhões exterminarão em nome de uma sociedade fraternal. Mas não sei!

          Abstratos, os olhares das pessoas revelam a magnitude de um tipo estranho de desesperança em meio à letargia imposta pelos dominadores dos ideais, dos sonhos, das vidas. E então, cansados, esses mesmos olhares, de maneira afoita, se lançam quase que fisicamente às grades que protegem um poder que não se sabe exatamente onde está, ou o que seja ou quem. E perdida, a juventude vasculha a rua inteira, as praças, a pátria inteira, o mundo, o universo de cada pedaço de um sistema que imagina sempre novas fórmulas para condenar, conter e cooptar os ímpetos das novas gerações.

          E banhada vemos a história em sangue, poderes e opulências. Quase sempre do silêncio ao grito. E hoje, do papel ao “face”, ao infinito.

          Mas há o medo dos ideais que se confundem. Nas ruas alguns sonhos que se debatem entre saqueadores e carabinas, entre corruptores de esquerda e de direita ou de lado nenhum que estranhamente se unem como concubinas. Muitos interesses escusos se alastram daninhos, como se fossem fagulhas de uma luz que nasce em nós para desatar a escuridão dos nossos descaminhos. E enquanto isso, a juventude sacode mastros ancestrais na ilusão de que inexistam bandeiras.

          Inadministrável ser de vocação facínora, de falácias travestidas de irracionalidades filosofais e práticas pelo próximo em causa própria revestidas de oratórias sacerdotais. Reverenciamos o princípio e não questionamos os fins. E sem finalidades perdemos os nossos princípios tornando-nos igualmente ruins. E discursamos uma sociedade fraternal paridos todos do mesmo mal. Somos iguais só no que tememos a sós e libertadores porque somos todos prisioneiros de nós. Queremos revolucionar a depressão latifundiária da nossa emoção, mas somos vítimas do nosso individualismo tribal, coletivo apenas na alienação. Somos contra a miséria do coração, mas nosso sim equivocado é eternamente soberano ao mais abençoado não. Temos uma pressa coletiva e saímos atropelando grandiosos eternos ideais com ideias efemeramente pessoais. E como dividir a propriedade que não temos? Como difundir o que nem ao certo sabemos se queremos? Como semear amor se cultivamos o ódio? Verdade se mentimos? Felicidade se não sorrimos? Igualdade se não repartimos? Fé se fingimos? Coragem se fugimos? Esperança se iludimos?

          Irrealizável sonho travestido de falácias e irracionalidades temperamentais! Como corrigir com outros erros? Como libertar com mais prisão? Como revolucionar, se não mudamos o eixo, sequer, da nossa ambição?

 

 

Paulo Franco         

Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº16 – junho/2013 

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