É interessante o quanto a busca pelo amor perfeito está atrelada à conquista da felicidade e vice-versa, como se esses vocábulos representassem uma divinal comunhão. Entretanto, de tão abstratos que são, os dois substantivos esbarram no antagonismo. Em comum têm apenas o fato de que para ambos não há receita pronta.
Há, por exemplo, aqueles que são felizes com pouco ou quase nada e há outros que são suicidas em potencial mesmo quando têm quase tudo em abundância.
No caso do amor, muitas vezes, o par que aos olhos dos outros seria o perfeito, a nós não causa emoção alguma. E pior que isto, em algumas situações amamos o absurdo, o improvável, o distante, o traste.
As buscas pelo amor e pela felicidade, aparentemente, representam uma espécie de termômetro de nossa própria evolução. Afinal, temos uma tendência para depositar a nossa possibilidade de felicidade nas coisas e nos outros e não entendemos que as coisas são passageiras e muito mais efêmeras ainda são as nossas emoções ao tê-las, já que duram apenas o tempo de consegui-las. Depois vamos querer outras. Assim, numa constância milenar, reinventamos a ambição decorrente da nossa insaciabilidade. Em seguida, corremos o risco de transformá-la em busca pela fama, pelo poder, pela supremacia sobre o outro que pode ser alguém ou uma pátria.
No caso do amor, ele também é depositado, quase que patologicamente, no outro, até mesmo quando não conseguimos amar o que somos e nem entender que o amor pelo outro jamais será eterno. Não vemos que a satisfação emocional não é e não pode representar uma mera transferência definitiva de expectativa. Na maioria das vezes o amor acaba em negócio, com papel passado e testemunhas em solenidades civis e religiosas que estabelecem o extermínio das buscas, o que fatalmente contraria a natureza da espécie humana que passa a lutar para conter os sonhos que continuam aflorando à revelia da vontade. É possível que a nossa sociedade ainda não tenha entendido que o casamento deve ser uma opção e não uma obrigatoriedade.
Assim, a busca pela felicidade divorciada da busca pelo pleno amor próprio estabelece a sua face mais cruel. Ela vira aquisição de coisas para suprir o vazio social e tentar conter a dor da existência. O sistema, é claro, agradece e se empanturra de comercializar bugigangas desnecessárias que não preenchem o ser, mas alimentam a sociedade de consumo, insaciável, fria e voraz.
Paulo Franco
Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº 03 – Fevereiro/2012