Teoricamente o Estado existe para conter a insaciabilidade dos individualismos sobre as necessidades do coletivo. Sem a mão do Estado, possivelmente o homem voltaria à barbárie, embora não se saiba ao certo se em algum momento da história ele já tenha saído plenamente dela. As corrupções, os latifúndios, os tiranos dos lares e dos países, as alienações, as ignorâncias (mesmo em época de internet), as crianças em trabalho escravo, chacinas, salário mínimo, o carnaval, são alguns dos muitos sinais de que a barbárie continua presente e absolutamente globalizada neste momento de novo neoliberalismo.
Entretanto há sempre uma nova bandeira em mastro velho tremulando a ideia de um modelo de Estado mais eficiente que contenha a nossa involução. E todos têm a alternativa para solucionar o caos que o capitalismo insiste em instalar com discursos socializantes. É como se a Revolução Francesa não terminasse nunca. A Igualdade, a Liberdade e a Fraternidade são os velhos jargões dos que querem o poder para ampliar a desigualdade ou mantê-la sobre controle, acabar com a liberdade do homem e quebrar as fronteiras para o comércio e para a produção, visando desqualificar a cada dia mais a mão-de-obra sempre desvalorizada. E a Fraternidade, é claro, sem a igualdade e sem a liberdade, não há. Inimaginável um Estado fraternal enquanto os Partidos, as Igrejas e os Sindicatos se fizerem necessários!
E assim, a mão podre do Estado está sempre a retalhar os sonhos dos homens. E geralmente com discurso de boa fé, de boa vontade, de esperança, de paz, de redução das desigualdades, de moralização, de boa saúde, boa educação. Contudo, quase sempre, a cada ato mais um passo é executado rumo ao sucateamento das funções estatais.
E os exemplos estão sempre muito próximos a nós em relação à mão podre do Estado. Em nossa região, por exemplo. temos Câmaras Municipais com uma quantidade absurda de vereadores (cargo que nem mesmo precisaria ter salário, considerando o que fazem – ou não fazem), além de assessores, automóveis individuais e outros gastos, e em contrapartida há hospitais sem o número mínimo necessário de médicos e enfermeiros e escolas funcionando em condições precárias. Um exemplo recente desta mão podre do Estado é o que aconteceu com os Centros Estaduais de Educação de Jovens e Adultos – CEEJAs – que funcionavam bem, mas tiveram uma drástica redução na quantidade de professores (apenas 15 para atender quase 1.500 alunos) e hoje estão funcionando apenas parcialmente. E o interessante é que a redução na quantidade de docentes foi para conter gastos. Que matemática esdrúxula! Menos dez professores, mais seis vereadores é igual à barbárie!
E neste mesmo momento histórico, a gente vê pela TV que alguns homens lutam por escolas de samba e matam e morrem pelo futebol. É homérico! É bizarro! A alienação gera um tipo de reação inofensiva para o Estado. A educação de qualidade geraria, com certeza, um outro tipo de contravenção.
O fato é que, nas últimas décadas, onde o Estado põe a mão ele estraga: sucateia, terceiriza, privatiza. Seria para se desfazer de suas funções? Mas qual a utilidade de um Estado sem papel? Gerenciar a barbárie?
Paulo Franco
Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº 04 – Março/2012