Por entendermos que as ditaduras são deploráveis, acabamos aceitando silenciosamente que a democracia arraste números bizarros também de forma quase que ditatorial. Vamos tomar como exemplo o fato de que grande parte das cidades do país não possui a maioria das especialidades médicas em pleno século XXI, assim como as escolas não têm psicólogos, assistentes sociais, dentistas, seguranças e consequentemente viram depósitos de crianças com professores mal remunerados assumindo as funções destes profissionais e disfarçando um caos que coloca em risco a vida e a formação destas crianças, as suas próprias vidas e, por extensão, a saúde da pátria. Em contrapartida, não há, com certeza, falta de vereadores em nenhum dos 5564 municípios da nação. Sem contar que os salários destes algozes da democracia são sempre bem mais opulentos do que a parca remuneração de sobrevivência daqueles que de fato trabalham em prol do cidadão e/ou da cidadania. Mas o aspecto ainda mais bizarro é que não satisfeitos e cientes da impunidade, já que têm a imunidade por simbolizarem a democracia representativa, estão aumentando a quantidade de parlamentares em quase todas as câmaras do país, em alguns casos até dobrando a quantidade daquilo que já era número grande demais se considerarmos o que não produzem. Tomando por base a cidade de Erechim/RS que subiu de 10 vereadores para 17, chegamos em um número rápido de meio milhão de reais a mais para os cofres do lugarejo. Se colocarem dois assessores cada um, mais os custos de manutenção, chegamos ao absurdo valor de um milhão de reais ao ano.
Pois bem. Não sei quantos moradores de rua existem em Erechim, mas sei que qualquer criança que saiba fazer as operações básicas saberá dizer que com um milhão para este fim, Erechim chegaria perto da solução deste problema. Porém lá os moradores de rua continuarão resistindo, até pelo menos o próximo inverno.
E o mais triste de tudo isso é que apesar das câmaras municipais já terem criado mais de 7.000 novos cargos de vereadores, ainda há quem acredite que este problema só exista em Erechim.
Deve ser por isso que o bom mesmo seja viver por aqui.
Prof. Paulo Franco
Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº 02 – Novembro/2011