“Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.”
Karl Marx
Há quem acredite que a falta de conhecimento sistematizado leva um determinado indivíduo a uma concepção carregada de estupidez, seja em relação à política ou a qualquer outro tema, dentre as inúmeras polêmicas que a sociedade contemporânea apresenta. Tal crença, por exemplo, fez com que uma candidata à presidência da nossa pátria amada mandasse um famoso apresentador de televisão de volta para a escola para que ele finalmente consiga entender e aceitar as teses do marxismo. Entretanto há uma distância infinita entre o entender e o aceitar. Não é o conhecimento que está em questão, mas o que se faz com ele. Será que se Hitler tivesse ficado mais tempo na escola, teria virado uma espécie de madre Teresa de Calcutá? Será que os demais candidatos à presidência do nosso país, que sacodem bandeiras ancestrais e outras em nome das mazelas do neoliberalismo, também precisam estudar um pouco mais para que as teses em questão sejam aceitas? Não! Para essa gente estudo não resolve mais. Agora é tarde.
Vale ressaltar que a nossa escola sempre atuou como aparelho reprodutor das ideologias do sistema. A escola dos ricos, melhor estruturada, secularmente vem apresentando bons resultados no sentido de preparar os filhos dos dominadores para a manutenção desta dominação. Já a escola dos pobres é esvaziada de conteúdos, de política, de filosofia, de sociologia, de arte. Sua especialidade é fornecer merenda, via de regra, ruim e cartilhas inócuas e preparar os filhos da miséria para a aceitação da sua condição de dominado. Isso sem contar uma parcela da classe média que é vitimada pela ideia de que ideal é a escola gerenciada pelo catolicismo, pelo protestantismo ou por qualquer outro “ismo” que, obviamente, torna os seus resultados questionáveis do ponto de vista da alienação. É. Agora é tarde. Quinhentos e quatorze anos sem formação de qualidade, pátria nenhuma suporta. A idiotização acaba sempre sendo a manchete do dia.
E sem contar o fato de que a mente humana é falha. O que faz um ser torcer por este ou por aquele time de futebol de forma irreversível é, possivelmente, o mesmo defeito genético que gerou a ideia do voto útil. A imprensa decidiu que apenas três candidatos estão na disputa para ganhar a eleição. Logo, temos uma pátria, quase que de forma colonial, sacudindo uma dessas três bandeiras e o argumento é constantemente o mesmo: não perder o voto. Perde-se a dignidade, perde-se a vida, mas não o voto. Enquanto isso, os múltiplos lados desta moeda suja vão organizando a famigerada governabilidade futura que acaba fatiando o poder e os parcos recursos do país com mensaleiros legalizados ou não. Passada a eleição, tudo vira uma grande sopa de letrinhas partidárias em nome de novas falcatruas que o povo nem sempre vê. Mas arrasta a culpa de ter votado errado novamente. Aí é tarde demais.
Mas, como agora a moda é todo mundo defender a escola em tempo integral, mesmo que ela não tenha as estruturas para a formação integral, quem sabe sobre uma vaguinha para o tal apresentador. E mesmo que seja tarde para que ele, do alto de sua opulência, entenda que “a história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes”, pelo menos ele estará detido na escola pública e não terá muito tempo para brincar de fazer piadinhas tendenciosas “The Noite” na televisão.
“A boa educação é moeda de ouro.
Em toda parte tem valor.
Pe. Antônio Vieira (Século XVII)
Paulo Franco
Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº28 – outubro/2014