Aquele a quem convém mais do que é lícito,
sempre quer mais do que convém.”
Padre Antônio Vieira (século XVII)
Com toda certeza, não há cadeia que resolva a índole do corrupto que vai preso com o bolso cheio de dinheiro público. Possivelmente, o ideal seria decretar a ele a liberdade plena, mas com todos os seus bens confiscados e com a proibição absoluta de que volte a ter qualquer tipo de propriedade até o fim dos seus dias. O corrupto julgado e condenado teria apenas o único direito de trabalhar para sua sobrevivência, recebendo o salário mínimo de sua pátria e usando o sistema público de saúde. Aliás, todo prisioneiro deveria trabalhar para o seu sustento e para o sustento das necessidades dos seus e do país.
Poderíamos acrescentar nesta lei impiedosa um artigo determinando que se a corrupção aconteceu na educação, a riqueza confiscada será aplicada na educação. Acaso tenha acontecido na segurança pública, aplique-se na segurança pública, e assim por diante.
Porém, o extermínio da corrupção não é assim tão simples, em especial, em um país no qual as raposas tomam conta do galinheiro. Inimaginável acreditarmos que os conluios que entopem as câmaras e os senados criariam leis que barrassem as suas ganâncias e os seus poderes escusos. Quando se fala em reforma política no Brasil, já se sabe que é falácia e que as impunidades continuarão imperando em nome dos interesses dos grupos que dominam a quase totalidade das riquezas da nação em detrimento de uma grande massa de miseráveis deserdados de saúde de qualidade, de educação de qualidade, de segurança, moradia, transporte, cidadania.
Não podemos nos esquecer de que o silêncio, a cumplicidade, o desejo de comer no mesmo prato sujo que o corrupto se lambuza, também é um tipo de corrupção. Assim como a imprensa marrom, tendenciosa, esquartejadora da verdade, também é corrupção. Vale lembrar que a impunidade é o alimento das corrupções e demais crimes. Quem corrompe ou é corrompido conhece profundamente a permissividade das leis do seu país. Diga-se de passagem, os impérios dos empreiteiros, dos bancos, das igrejas, dos mensaleiros, só existem porque impera a impunidade em nome das múltiplas corrupções. Aliás, a mãe, que chantageia o filho oferecendo sorvete se ele comer toda a papinha, é uma semeadora da corrupção.
E não acredito que o voto pelo voto venha um dia resolver essa questão. Não vejo nenhum candidato defendendo a redução da quantidade de vereadores obsoletos nas câmaras, a quantidade de deputados, de senadores, de secretarias e de cupinchas em nome, por exemplo, da quantidade de médicos ou da valorização dos professores e policiais. O custo aos cofres públicos de um deputado federal chega a quase dois milhões ao ano. E são quinhentos e treze! Para que tanto deputado, meu Deus? E fora os oitenta e um senadores e um número imenso de deputados estaduais e uma quantidade maior ainda de vereadores inócuos. Caso se faça o cálculo final desta fórmula esdrúxula, chegaríamos a um valor extraordinário que resolveria, pelo menos, o problema da saúde pública de qualquer nação. Sem contar o fato de que grande parte das cidades esparramadas pelos rincões do país não são autossustentáveis, não conseguem garantir nem mesmo os serviços básicos para os seus munícipes. Portanto esses lugarejos precisariam ser anexados a cidades maiores que garantissem um mínimo de dignidade, um mínimo de cidadania a este povo pagador de quase uma centena de impostos.
É evidente que não devemos defender o fim da democracia, mas o fim das demagogias sim. É claro que os legisladores têm as suas incumbências. Entretanto o que se discute é a quantidade e os valores. Tirar da população cento e quarenta mil reais ao mês para manter um deputado é um absurdo e em si já é um roubo, já é uma enorme corrupção.
Será que para resolvermos tantas mazelas teremos que retomar o velho slogan “Trabalhadores, uni-vos!”? Ou devemos ficar assistindo de forma cúmplice até sermos encurralados pelo avanço da barbárie para que finalmente esse silêncio todo seja quebrado?
Paulo Franco
Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº27 – setembro/2014