
Interpretação: Antônio Nicodemo
Audio do CD Literatura II – Produzido pela prefeitura de Suzano

No espelho
a máscara dirige o meu cenário
de mentiras que me acalmam
no espetáculo de contradições
que represento.
E vejo a sombra que de mim
nos outros resplandece
ser o que nem sei se sou,
mas que no outro
como espelho transparece.
Máscara em mímica
que incorpora o meu papel
e hipnotiza meus sentidos
encorajando a maquiagem que me imponho
pra pensar em outro sonho
diferente do que sou.
Um figurante que protagoniza
apenas as cenas de dor.
Dublê de si
que anestesia a cara confinada
num espelho que não tem mais cor.
Máscara despida à minha frente
refletindo as várias fantasias
que estão fora do espelho
em que me assisto.
Fecham-se as cortinas
e o auditório vai embora
enquanto um louco balbucia
que não teve graça
porque a máscara despida
de pirraça ou de pavor,
era a cara maquiada
do seu próprio autor.
3º Concurso Literário da Amlac
Academia Metropolitana de Letras, Artes e Ciências
Categoria: Poesia
9º Lugar – Vinhedo – sp

Não quero mais buscar o amor perfeito
pra camuflar o sentimento em chama
e amortecer o que me dói no peito,
a mesma dor de todo ser que ama.
Que amar assim, eu sei, não é direito,
pois todo peito preso nesta trama
adoecido faz do olhar um leito
pra adormecer a fonte deste drama.
Vou procurar amar só o instante
um amor maior, porém um passageiro
tão transeunte quanto o amante
que tenha amores pelo mundo inteiro
e ao invés da dor o peito sempre cante
o imperfeito amor que é o verdadeiro.
Medalha Cecília Meireles
I Concurso Nacional de Poesia de Cordeiro-RJ

Sobre uma parte
do que sei, escrevo
e se não sei, me calo.
E do que escrevo,
uma parte eu nem sei,
e mesmo assim, às vezes, falo.
Sobre o que sinto
uma parte escrevo
pra tentar saber
o que de mim eu minto.
E nunca sei se escrevo
a parte que me cabe
do que sei de mim
e , às vezes, calo
pra fingir o que não sinto.
E sei que do que sei,
à parte, no que escrevo,
parte não me cabe
já que eu só pressinto.
E no que sinto deste pressentir
há o conflito entre o silêncio e o grito
transformando o poema
em linguagem de infinito.
1º Lugar – IV Varal de Poesias – Maringá-PR

Um dia te deram um nome provisório
o qual permutaram pelo de esposa.
Chamaram-te menina, menina moça
e de menina em menina, mulher.
Deram-te lições de corte,
costuraram a tua boca,
maquiaram-te em moldura
de barroco efeito
e te fizeram dar a vida
para proteger o fruto virginal perfeito.
E com as regras de ternura
tornaram-te a imprestável candura
reprodutora do ócio mortal do lar.
Mas tudo bem,
no fim, te prometeram um bem.
Ensinaram-te a ser doce para o amargo do par,
amar cedendo sempre a tua parte,
amar com arte coibindo a tua libido,
gemendo a dor do cotidiano
para amenizar o teu engano
e satisfazer teu marido.
E como já de berço
rezaram-te todos os terços
com as regras de etiqueta,
menstruação e boa conduta,
caso percas o recato
arrancarão teu retrato
pra te tomarem o nome
e te chamarem de puta.
1º LUGAR – 2007
I CONCURSO DE POESIAS SOBRE A MULHERCOLÉGIO BRASILEIRO DE POETAS

Olhamos de lado
e nos olha o outro,
mudo, num mundo surdo,
a nos espreitar
como se um espelho fosse
a representar, talvez,
uma outra parte do que somos.
E profundamente
vasculhamos o outro lado do outro,
a nos procurar.
E olhares outros repartimos na escuridão
pra clarear a multiplicidade de sentidos
no que olhamos.
Olhares que são grãos de areia
no infinito da procura.
Mar de buscas nestes prantos.
Acalantos pro sonhar
que no horizonte perde-se entre encantos
sem ter cura.
E para nos encontrar do outro lado
do que imaginamos que vemos neste vai e vem,
olhamos desesperançados do outro lado da rua
como o prisioneiro que transcende
para a liberdade que não tem.
E do outro lado o outro nos olha de lado,
disfarçando o sentimento como lhe convém,
procurando nos olhares que se perdem
o mesmo intrigante achado
que o outro procura também.
I CONCURSO DE POESIA BRINCANDO DE POETAR1º LUGAR – 2007

Falta coragem para ir à janela
e libertar os sonhos
que se entulham nos valores
que deprimem nossa cela.
Falta coragem pra se amar
como se ama quem nos ama a sós.
Aquele amor libertinado, de prazer de antes,
de prazer de meio e eternizado após.
Falta coragem para o sim
quando se emprega o não,
impregnado de amarras que deprimem
a liberdade que alimenta o coração.
Falta coragem para o não
quando se acata o sim à revelia da vontade,
em cumprimento ao estabelecido
que deturpa a nossa verdade.
Falta coragem pra mudar de rumo
ainda que preciso fosse a marcha ré,
para que a vida seja, tão somente,
a plenitude que ela já é.
Falta coragem pra beijar na boca,
pro abraço e pra revolução,
mesmo que revolucionariamente
a gente só liberte a nossa emoção.
Falta coragem
pra quebrar as cercas deste mal
e ver o mundo além dos muros,
além dos horizontes do nosso quintal.
CONCURSO DE POESIAS NAVEGANTES DAS ESTRELAS
1º LUGAR – 2007
ELEITA A POESIA DO ANO DE 2007
COMUNIDADE NAVEGANTES DAS ESTRELAS

Debate-se um poema em toda alma presa.
Quando é bem demarcado, às vezes não tem rima.
Se tem um grande tema, falta-lhe a beleza
que exige o achado pra ser obra prima.
E o artista a procurar a arte de grandeza,
sabendo que a procura é o que ilumina,
se perde a meditar, à caça de sua presa,
qual louco atrás da cura para a própria sina.
Então em instante raro onde a poesia,
qual deusa de um castelo, presa em baluarte,
clareia-lhe o faro como a luz do dia
e o artista vira um elo para outra parte
e o verbo de tão claro a alma contagia
enfim, o imenso belo que só há em arte.
4º CONCURSO NACIONAL DE POESIAS
PRÊMIO “AFFONSO ROMANO DE SANT’ANA” – 2008
SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE COLATINA/ES
MENÇÃO HONROSA E PUBLICAÇÃO
Que lindo! Entorno o meu carinho em teus versos, Migo Poeta. Parabens novamente! 🙂
Cris, adorei a ideia de entornar carinho a versos. Abraços.