OLHARES
Olhamos de lado
e nos olha o outro,
mudo, num mundo surdo,
a nos espreitar
como se um espelho fosse
a representar, talvez,
uma outra parte do que somos.
E profundamente
vasculhamos o outro lado do outro,
a nos procurar.
E olhares outros repartimos na escuridão
pra clarear a multiplicidade de sentidos
no que olhamos.
Olhares que são grãos de areia
no infinito da procura.
Mar de buscas nestes prantos.
Acalantos pro sonhar
que no horizonte perde-se entre encantos
sem ter cura.
E para nos encontrar do outro lado
do que imaginamos que vemos neste vai e vem,
olhamos desesperançados do outro lado da rua
como o prisioneiro que transcende
para a liberdade que não tem.
E do outro lado o outro nos olha de lado,
disfarçando o sentimento como lhe convém,
procurando nos olhares que se perdem
o mesmo intrigante achado
que o outro procura também.
Paulo Franco
I CONCURSO DE POESIA BRINCANDO DE POETAR
1º LUGAR – 2007