A segurança pública está na ordem dos nossos dias e dos nossos medos. Em decorrência da insegurança que assola o país ela é a vedete dos meios de comunicação, em especial, dos mais sensacionalistas. Também não é para menos. Em algumas regiões os índices indicam uma pátria em guerra civil que o estado brasileiro nem controla e nem assume que existe. Estatísticas alarmantes demonstram que até mesmo quem atua na segurança está sem segurança para ir e vir.

          Contudo, algumas outras mortes, um pouco mais silenciosas e que não estão na grande mídia, continuam causando uma verdadeira devassa nacional, como é o caso da educação e da saúde. E o interessante é que o tripé de todos os palanques eleitorais, já há muito tempo, é exatamente a segurança, a educação e a saúde.

          O bizarro é que na questão da segurança, de fato, em muitos casos, não há a possibilidade de se identificar os verdadeiros criminosos, embora algumas alterações na legislação poderiam diminuir as impunidades. Porém, no tocante à educação e à saúde os culpados são visíveis a olho nu e estão às soltas desde o descobrimento. Eles estão nas câmaras, senado, empreiteiras, prefeituras, latifúndios, presidências e infinitos outros cabides de um sistema de desigualdades sociais profundas que suga toda e qualquer possibilidade de dignidade de nosso povo. E o tempo todo essa gente de colarinho branco, verde, amarelo, azul anil tem as suas carrancas estampadas nas páginas dos jornais ou nas telinhas, que via de regra, atuam a serviço dos que geram as corrupções, as impunidades, as misérias e os extermínios dos direitos e da cidadania.

          No último dia 27 de novembro, foi divulgado o índice de qualidade na educação, batizado como Índice Global de Habilidades Cognitivas e Realizações Educacionais (que envolve o aprendizado de matemática, leitura e ciências), no qual a nossa pátria amada e mãe gentil aparece na penúltima posição de um total de 40 países, ficando à frente apenas da Indonésia.

          Enquanto isso assistimos ao vivo inúmeras demolições de estádios de futebol para a construção de outros estádios de futebol. E voltar a discutir as razões de uma educação precária para as camadas populares é chover no molhado. Ouso dizer que não há autoridade que desconheça as razões. Acredito sim que talvez até desconheçam as condições da saúde pública, principalmente porque jamais levariam um ente querido para ser socorrido nos matadouros, aos quais chamam de Hospital, UBS, UPA e outras siglas que mais parecem Campos de Concentração.

          Não tenho o número exato. Entretanto, se contarmos os mortos em decorrência da falência na segurança, das falcatruas na saúde e dos mortos vivos semianalfabetos que são paridos por esse sistema educacional falido, chegaríamos a um Ranking de mortes múltiplas dificilmente superável por outro país do mundo, em especial, países como o Brasil, detentor de riquezas imensuráveis, porém nas mãos de alguns que se sobrepõem à multidão que clama e morre impiedosamente nas ruas, nas escolas (morte da alma) e nas filas de espera para atendimento médico. E nos dias atuais, inclusive os profissionais destes três segmentos também estão morrendo em abundância: alguns a tiro, outros por loucura ou qualquer outro tipo de adoecimento gerado pelo descaso do sistema em relação às condições de sobrevivência desses profissionais. Isso sem contar que a juventude já não sonha mais com essas profissões. E isso dói.

          E ainda há quem se pergunte sobre a origem de tamanha violência.

 

      Paulo Franco 

Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº11 – dezembro/2012 


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