“Senhor Deus dos desgraçados! 
Dizei-me vós, Senhor Deus! 
Se é loucura… se é verdade 
        Tanto horror perante os céus?! “      

Castro Alves

 

          Dizem que religião, política e futebol não se discute. Provavelmente seja por isso que o futebol aliene tanto em meio a um mar de corrupção. A corrupção, por sua vez, é um dos ingredientes especiais da política que tem como especiaria a temperá-la a religião deste ou daquele segmento social que sempre visa fatiar o poder do estado para se sobrepor ao cidadão comum, via de regra, com baixa escolaridade, baixa autoestima, baixa renda, nenhuma propriedade e em consequência uma vítima tão frágil que sente medo de qualquer tipo de deus anunciado nos meios de comunicação, que geralmente estão nas garras de quem domina este processo de alienação. Talvez seja por isso que eu e várias outras pessoas temos tanta dificuldade para encontrar Deus. A gente nunca sabe em qual canal ele está de verdade, em qual partido, seita, religião, time, escola de samba e embora crucifiquem a todo momento um Cristo com os olhos esplendorosamente azuis, nem mesmo sabemos, com certeza, a sua cor ou a sua opção sexual. Acredito que se ele for negro e homossexual ou uma mulher negra e pobre, acabará sendo banido, inclusive da história. Nem mesmo o calvário lhe será permitido durante as festas natalinas. Tudo isso sem contar que o cristianismo nem representa a maioria do planeta. O que nos leva a crer que se algo em torno de dois terços da humanidade já nasce para ir pro inferno automaticamente, é bem provável que a gente já viva também em um tipo de inferno inconsciente e nem saiba.  É muita pretensão ocidental querer uma divindade exclusiva para o lado de cá, e imaginar que este Deus, embora “onipresente” deixaria o lado de lá ao deus-dará.  

          A questão central, porém, é por que não se discute esse “jogo-político-religioso-financeiro” se os milagres são operados ao vivo todos os dias em quase todos os meios de comunicação, embora os doentes continuem aumentando e morrendo nas filas para o povo? São cegos que voltam a enxergar, são paralíticos que andam a todo instante. Sem contar os milagres financeiros que nunca amenizam as misérias. Ou não precisamos mais de hospital ou alguém precisa urgentemente ir para a cadeia, afinal, o volume de alienados continua aumentando e para estes não há cura, tamanha é a imbecilização. Idiotizar deveria ser crime, assim como corromper, no papel, já é. De certa maneira é tudo 171.

          E é interessante como partidos, seitas e times brotam com extrema facilidade e não abrem falência. Livraria que é bom, quebraria logo no primeiro momento só com o volume de impostos, sem contar a burocracia que seria  para fechar a empresa falida. Por que não se isenta a cultura e se sobretaxa os dízimos em nome das crianças carentes, da educação, da saúde, da segurança? Afinal, a proteção divina nós já temos em Cristo, visto que está escrito que “ninguém vai ao Pai senão por Mim”. Observe, caro leitor, que Ele não disse “ninguém vai ao Pai senão pelo padre ou pelo pastor”. Vale lembrar que impostos sobre dízimos, no mínimo, minimizaria algumas lavagens de dinheiro sujo.

          O fato é que inúmeras igrejas viraram “leasing”, inúmeros partidos se transformaram em casamatas de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e almas e mensalões nacionais e internacionais. Já os times de futebol e as escolas de samba sempre foram “leasing” e casamatas do sistema e ao mesmo tempo sempre adornam a dormência popular e nos escandalizam com os valores exorbitantes e inúteis que movimentam visivelmente de forma suja, já que dinheiro não cai do céu nem mesmo para os sacerdotes. Aliás, estes segmentos são tão improdutivos quanto as bolsas de valores que mais e mais desvalorizam os setores que constroem a sociedade e evidentemente a mão-de-obra cada vez mais aviltada por esse novo modelo de escravidão que parece não mais ter fim.

          O que se pergunta é por que as altas autoridades das igrejas procuram o Albert Einsten quando ficam doentes. Por que não apelam para os seus próprios milagres? E por que as autoridades políticas também procuram o Albert Einsten? Por que não usam as unidades públicas de saúde?

          Sim! Religião, política e futebol se discute. Pelo menos em países aonde a educação é o fiel da balança contra a alienação e o professor não é feito de fantoche e impedido de discutir as artimanhas dos aparelhos reprodutores da ideologia do sistema. A função de educar não pode continuar submetida à ideia de sacerdócio, em especial, em um país no qual um Neymar analfabeto funcional vale mais do que todos os docentes da pátria.

        Valha-me, Deus!

 

 

Paulo Franco

 

Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº19 – outubro/2013 

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