A nossa liberdade é torturante. Vivemos a democracia de poucos iluminados em um país de quase plena escuridão. É inconcebível que em muitas cidades do país exista apenas um candidato ao poder executivo. Quando muito, são dois ou três, que, aliás, muitas vezes fazem parte de um mesmo bando. Isso quando um não desiste da disputa para subir no palanque do outro em nome de conchavos que garantam cadeiras nas secretarias futuras.  E os jornais de cada dia, tantas vezes ligados a interesses escusos, mentem para um povo que não sabe ler e que de posse de vasta ignorância determina a mentira como verdade absoluta, já que o eleitor é como quem atira contra si por não entender os lados da arma que maneja. A ficha limpa é um oásis neste mar de podridão. Somos quase duzentos milhões de detidos nas garras de alguns poucos que roubam para si as informações, as terras, as fábricas, as leis e as corrupções. A nossa democracia é, de fato, torturante. Ela é um fardo, inclusive para os candidatos aos cargos legislativos que normalmente não são iluminados. E eles existem aos montes, entopem as nossas caixas de correio, visivelmente por ambição a um farto salário para um parco cargo quase que sem função. Via de regra, é gente ralé, hoje em dia, de qualquer classe social, que se submete aos iluminados de plantão, que já foram aprovados em todas as sabatinas de corrupção para serem a bola da vez e chefiarem as coligações. Contudo, apesar da ampla democracia no que diz respeito ao volume de candidatos a uma vaga no legislativo, quem menos manda é a urna e aí a democracia se desfaz. Há candidato laranja de todo tipo. Há aquele que não põe a campanha na rua porque é funcionário público e só quer o salário sem trabalhar. Há aquele que não receberá os votos nem mesmo dos parentes mais íntimos. Há aqueles que já saíram derrotados no formato das coligações que eles não entendem. Há aqueles que vomitam mais dinheiro na campanha do que receberão, se eleitos, durante todo o mandato.  É há aqueles que todos já sabem que estarão eleitos porque jamais saíram das asas do poder. Na maioria das cidades, poderíamos adivinhar quase todas as cadeiras nas câmaras antes mesmo da eleição.  Quanto aos poucos iluminados que se arranham pelo executivo, a disputa dessa gente limpa se dá primeiro no campo judiciário, para ver quem é que consegue esconder a sua própria ficha suja e denunciar a ficha dos outros. E só depois desta rinha, muitas vezes julgada por supremos questionáveis, é que vão às urnas que nos dão o direito apenas de votar em quem já conseguiu varrer a própria sujeira para debaixo do tapete desta hipócrita democracia de partidos de aluguel, empreiteiras, acordos, manuseio de fiéis e infinitas formas de mensalões que jamais chegarão aos tribunais.

 

Paulo Franco  

Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº 09 – setembro/2012  



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