Pagamos pelo menos oito dezenas de impostos para garantir a nossa cidadania e ainda assim somos afrontados o tempo todo por legislações esdrúxulas paridas pela negligência, inoperância e cumplicidade de legisladores que chegam a ganhar até dezoito do fascismo. E tudo dentro da lei.

          Um exemplo recente desta afronta é a lei que proíbe o uso das “sacolinhas” nos supermercados.  Agora querem nos convencer de que são elas que estão destruindo o planeta. É como se tentassem provar que “as saúvas acabam com o Brasil” e não os corruptos.  Ora! Em primeiro lugar, a sacolinha já estava paga com o valor embutido no preço dos produtos e nenhuma mercadoria diminuiu de preço por isso. Em segundo lugar, ela era reutilizada para acondicionar o lixo doméstico e, portanto acabava no lixo. Em terceiro, muitos produtos vendidos nos mercados também são acondicionados em recipientes de plástico.  Voltaremos então ao tempo do “a granel”? E os automóveis que são despejados na rua todos os dias e que também usam plástico em tonelada?   Será que a sacolinha é pior para o planeta do que é e mais ainda será em longo prazo o pré-sal?

          Mas tudo isso é pouco quando se trata de uma lei bizarra.  Onde foram parar as outras leis que garantem a higiene dos produtos para proteger a saúde da população? Para uma família de baixa renda que não tem dinheiro para ficar alimentando a máfia das sacolas biodegradáveis, os produtos adquiridos com suor são jogados nos carrinhos sujos e enferrujados como se fossem lavagem para um povo que silencia para tudo por temor à lei. Isso quando não se coloca, por exemplo, carne em caixa que acondicionava sabão, detergente, inseticida.         

          Porém, dirão ainda os incautos que este texto não é ecologicamente correto porque defende que as sacolinhas acabem com o planeta. Triste fim de Policarpo Quaresma! Nem as saúvas acabaram com o Brasil, nem as sacolinhas acabarão com o planeta. Respeito o idealismo dos apaixonados pelas questões ecológicas, ainda que, às vezes, em detrimento das necessidades do cidadão. E para demonstrar, afirmo que todos os argumentos elencados acima são meras falácias. O óbvio que já foi dito. O lado mais esdrúxulo da lei é, sem dúvida, que, inclusive os ecologistas de plantão, esqueceram de que a questão do lixo passa por uma coleta seletiva de qualidade nos municípios. Mas isso exige luta por parte dos idealistas, compromisso e trabalho por parte das autoridades e fiscalização por parte da população.

          Parece que no Brasil é bem mais fácil, em decorrência do silêncio e da aceitação coletiva, fazer política pública com leis inócuas do que com atitude e com medidas administrativas eficazes. Percebam que os mesmos caminhões que já fazem a coleta desordenada (que nós também pagamos no meio dos mais de oitenta impostos), poderiam, desde que houvesse vontade política, estabelecer um calendário para a coleta de cada tipo de lixo separadamente e com destinação específica. 

          Entretanto tudo isso é um sonho absolutamente utópico, pelo menos enquanto a população não tiver cultura para entender qual foi realmente o triste fim de Policarpo Quaresma. 

Paulo Franco   

 

Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº 05 – Abril/2012 

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