Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós que cometemos o pecado do silêncio às ingerências e às corrupções que nos colocam o tempo todo à mercê de tragédias anunciadas, porém não denunciadas em tempo.
Neste triste momento, há um pouco da dor da cidade de Santa Maria em cada um de nós que vivemos em uma pátria com excesso de leis, via de regra, inócuas, já que na maioria das vezes não são cumpridas a contento. O nosso país está abarrotado de legisladores municipais, estaduais e federais que, para mostrarem serviço, ficam remendando a Constituição com legislações vazias que apenas burocratizam a nossa Carta Magna, transformando-a em uma espécie de colcha de retalhos que não serve para proteger o direito de vida e felicidade da população. Enquanto isso, muitos morrem de fome, outros por falta de moradia, falta de saneamento básico, falta de um sistema de saúde minimamente digno, falta de segurança, falta de educação e tudo isso junto gera uma população que não reage contra as corrupções (explícitas e implícitas) que fomentam números de uma grande guerra civil. E isso quando não é a própria população que promove a corrupção oferecendo suborno a fiscais, policiais e outros representantes do estado.
Perante as leis vigentes, se procurarem direito os culpados pela chacina dos jovens que estavam na boate Kiss, é evidente que uma grande lista de inoperantes, negligentes ou corruptos mais visíveis será encontrada. Ela será, com certeza, formada por aqueles que emitiram de forma indevida os alvarás de funcionamento, ou por aqueles que não executaram com o necessário rigor as vistorias, ou por alguém que burlou as leis independentemente de autorizações, ou por alguma autoridade que foi subornada para fazer vistas grossas e etc. Contudo há sempre uma outra lista que é invisível aos olhos daqueles que executam as leis. Essa segunda lista é formada pelas altas autoridades (governadores, prefeitos, vereadores, secretários…) que permitem que as pequenas corrupções ocorram, seja por não darem a devida importância ao tema, seja por cumplicidade, seja por incompetência ou outra razão qualquer que pode ser simplesmente a impunidade. E essas duas listas de criminosos em potencial, a visível e a invisível, existem, possivelmente, em todas as cidades do país.
Atire a primeira pedra a cidade que não é um pouco de Santa Maria. Atire a primeira pedra a cidade que mantém uma rígida e atualizada fiscalização de segurança em todos os ambientes públicos, sejam igrejas, teatros, cinemas, boates, botecos, repartições diversas, e o que é mais escandaloso: em todas as ESCOLAS. A maioria dos prédios escolares são antigos, arcaicos e muito mal projetados. Sem contar que no passado a quantidade de aparelhos elétricos era mínima. Em especial naquelas escolas em que há pelo menos um andar, o corredor superior é um beco sem saída. Caso ocorra um incêndio no térreo, as crianças morrem vitimadas pela negligência de quem mantém essas edificações funcionando sem as devidas adaptações às legislações atuais, que seria, no mínimo, a construção de escadas de emergência nas laterais dos prédios.
Mais um ano letivo está começando. Só em nossa região há inúmeras unidades escolares nestas condições alarmantes. Quem vai impedir o risco de uma tragédia anunciada com as nossas crianças e jovens? O governador? Os prefeitos? Os vereadores? As autoridades da educação? Os pais? Os próprios alunos? Ou seria Santa Maria?
Um grande “kiss” para quem atirar a primeira pedra.
Paulo Franco
Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº12 – fevereiro/2013