Em minha cidade não há corrupção. Tudo é lindo e limpo. As nossas crianças saboreiam merendas maravilhosas vendidas nas padarias que são especializadas em guloseimas como carnes e frutas e verduras. Aqui, até as concorrências públicas seguem critérios rigorosos em nome da lisura e do bom uso do dinheiro público. A minha cidade é uma Pérola na Serra. Ela não é como o Brasil que é carregado de mensalões e outras tantas mutretas. O nosso alcaide, às vezes, também diz que “não sabe de nada”, mas a gente nem percebe porque somos uma estância turística que tem uma pedra, uma igreja, um castelinho e um relógio bem grande no meio do paço, que com certeza, nem deve ter custado muito aos cofres do nosso governo. E como somos uma espécie de Pasárgada, o rei é amigo de todos, até mesmo dos donos de empórios e dos “bananas” que existem na cidade. Só “laranja” o rei não respeita por temer que os cartéis invadam o nosso pequeno paraíso. E como a nossa vocação é o turismo, dizem que teremos teleféricos e até aeroporto. Não temos saúde de qualidade, segurança e educação, mas nem ligamos porque o nosso sonho sempre foi um teleférico, já que agora temos um relógio gigante.
É pena que a imprensa das imediações, só porque nós somos a Pérola da Serra (acho que têm inveja), andou divulgando que uma maracutaia imensa de R$ 6,8 milhões aconteceu aqui. É pouco provável, principalmente porque alegam que a mutreta seria com a verba da merenda das nossas criancinhas. Não! Aqui tudo é limpo e lindo. Elegemos sempre os melhores representantes que aceitam os cargos apenas por plena vocação de ajudar o próximo. Jamais favorecer o próximo por alguma dívida de campanha, por exemplo. E eles são tão desprendidos que nem mesmo precisariam de partidos políticos. E isso é tão fato que fazem coligações imensas e as ideologias se misturam como se fossem uma só. É bem verdade que o salário dos eleitos é infinitamente maior do que os salários dos professores da nossa querida Pérola. Mas é justo, visto que os educadores só dão aula, nem mesmo precisam trabalhar. Já os nossos representantes têm que comparecer esporadicamente na câmara e nos gabinetes e ardorosamente debatem sobre a nossa felicidade. Isto é radiante.
Não precisamos ir embora para Pasárgada. O Empório dos Pães que já fornecia R$5l,6 mil de lanchinhos para os nossos eventos, não deixará os nossos pupilos a pão e água.
Paulo Franco
Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº22 – janeiro/2014
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