Vivemos em uma sociedade na qual a felicidade está atrelada à beleza e esta está diretamente ligada à paixão, seja por coisas ou por pessoas. Ninguém, por exemplo, ficaria apaixonado por um barquinho velho e furado, mas, com toda certeza, por um iate sim. O mesmo ocorreria entre uma Brasília enferrujada e uma Mercedes zero ou um casebre apodrecido e uma mansão. Já aqui, detectamos que a beleza material está para poucos. E com a paixão em relação à outra pessoa não é diferente. O triste, ou o engraçado, é que as pessoas só são todas belas nas revistas e nas novelas. Na vida real, a maioria é feia e algumas pessoas são especialmente muito feias mesmo.

          Aí, então, como ser feliz? Não se é! Alguém vai e determina a condenação dos gordos como sendo feios e os negros, os deficientes, os baixos, os vesgos, os carecas e sei lá mais o quê. Consequentemente são todos excluídos da possibilidade de felicidade, já que foram banidos do padrão sobre o que seja o belo. E já pensou se a pessoa for tudo isso ao mesmo tempo e ainda por cima for pobre e sem dente? É! É evidente que não haveria felicidade possível.

          Ser feio, portanto, não é bonito porque é muito dolorido. É só a gente andar na rua e olhar bem nos olhos de cada feio na multidão de feios, para perceber o tamanho da tristeza que carregam. Chegam a ter raiva de um ou outro belo que raramente passe. Então os feios adoecem e viram quase todos compulsivos. E correm para as bancas de revistas para comprar imagens de beleza ou se esparramam nas salas para ver formosuras nas novelas ou comem desesperadamente para suprir a insaciável sensação de vazio que a feiura gera ou simplesmente param de comer e ficam mais feios ainda. Como é triste ser feio em uma sociedade que capitaliza a beleza! E neste sentido, a mulher feia é mais ferida do que o homem feio. Alguém determinou que o homem até pode ser feio desde que seja homem. Já a mulher é diferente. Mesmo feia ela tem que gastar muito dinheiro para ficar bonita, embora sendo feia vá continuar feia e se achando bonita com todo mundo vendo que ela continua feia. E gasta com esmalte, com florzinha sobre o esmalte, com roupas psicodélicas, com um cabelo colorido e/ou espichado por semana, compra um monte de meleca para a mão, para o rosto, para os pés e tem até melequinha e sabonetinho especial para o órgão genital. Mas a coitada que teve o destino de nascer feia continua a sua sina de feia.

          Pensando bem, talvez, seja a infelicidade parida da feiura a responsável pelo sucesso mundial dos livros de autoajuda. Afinal, o feio que é feio de fato, acaba ficando sozinho e aí só se iludindo com regrinhas prontas de felicidade. Porém tem aquele feio que corre para a única solução possível que é encontrar um par igualmente feio. Sexualmente a questão emocional pode ser amenizada, já que sexo pode ser feito no escuro. Mas é só acender a luz ou raiar o dia que a porca torce o rabo. Porque, vamos combinar, é muito triste ver um casal feio fazendo dengos em público. Tanto é que em novela não tem.  E nem pode! Uma emissora de TV não vai ser a redentora de uma sociedade inteira que estabeleceu que a beleza é fundamental. Vai ela perder a audiência? Você já imaginou, caro leitor, uma propaganda da Coca-Cola só com gente feia? E uma de absorvente com uma mulher bem tipo espantalho? Difícil! Pode parecer bizarro, mas é quase impossível arrumar um jeito para o feio ser feliz em uma sociedade de consumo tão hipócrita que estabeleceu valores para a imagem e para a felicidade das pessoas.

Paulo Franco 

Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº25 – abril/2014 
http://jornalmaisnoticias.com.br/category/revista-conteudo

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