Nos primeiros anos deste jovem milênio, o governo do Estado de São Paulo, tendo como mandatário o mesmo segmento partidário dos dias atuais, determinou que as comunidades escolares deveriam debater e propor “A Escola dos Sonhos”. Democrático, porém demagógico. Afinal, alunos, professores e pais sempre souberam que a escola ideal é aquela que oferece condições dignas para que o aluno aprenda e o professor ensine. Contudo, para que isto ocorra (e o governo sempre soube disto) a escola dos sonhos deve ter classes com 20 alunos e o professor deve ter uma jornada de trabalho dentro do que estabelece a Organização Mundial de Saúde e ser bem remunerado e reconhecido com um plano de carreira que o estimule a avançar e, quem sabe, ser feliz. Nestas condições até a “progressão continuada” seria possível. Caso contrário, vira escandalosamente a “aprovação automática” que está formando analfabetos e adoecendo professores (ler textos científicos sobre a Síndrome de Burnout). Aliás, a educação está doente com tantas falácias e pedagogismos. Normalmente quem tem teorizado sobre escola está bem longe dela. E quando as teorias falham, culpam o professor e chamam a comunidade, que paga os seus impostos, para amenizar o caos com populismo barato do tipo “amigos da escola”. Ninguém chama o povo para medicar pelo médico, para arquitetar para o arquiteto. Por que a população tem que resolver o problema da educação? Até as crianças sabem que nada substitui o saber. E para que ele flua é preciso paz, estrutura, disciplina e felicidade. Sem esses elementos não há educação de qualidade possível. É preciso humanizar a escola. O aluno tem sido tratado como um número, como um tijolo na parede, como gado em classes superlotadas e consequentemente o professor tem sido tratado como um nada. À pedagogia compete facilitar a transmissão do saber. Não cabe a ela resolver as mazelas de uma sociedade apodrecida por corrupções, falácias, violências, patologias ou construtivismos.
Uma década depois, a escola dos sonhos ainda é um pesadelo, ainda é um amontoado de falácias e de discursos vazios que alimentam os palanques eleitorais, inclusive com uma grande quantidade de candidatos analfabetos (pelo menos funcionais) que foram vitimados pela mesma escola pública de mentira que as forças políticas, sem compromisso com a transformação da sociedade, continuam gerando. E o mais triste é que a escola dos sonhos ainda não aconteceu porque muitas salas de aula continuam superlotadas e os professores continuam adoecidos por falta de condições dignas de trabalho e de reconhecimento. Isso sem contar que as tecnologias continuam distantes do cotidiano escolar. É como se o computador ainda fosse uma novidade, um mistério, um bicho-papão. Em geral, quando a escola possui computador, é em quantidade insuficiente e sem a devida manutenção. Infelizmente as salas de aula continuam sobrevivendo com um atraso de alguns séculos. As autoridades afirmam que há falta de dinheiro e é possível que realmente seja um fato. Afinal de contas, tudo isso acontece em um país no qual o próprio legislador estabelece os seus vencimentos agigantados. São vários milhares de reais de salário, verbas para assessores, verbas para gabinetes, verbas para gasolina, verbas para automóveis e etc. Qual o custo total para todos nós? É bem provável que a escola dos sonhos tenha que esperar que a sociedade acorde deste sono para colocar fim neste pesadelo.
Mas vale ressaltar que é só dar à escola as condições que ela precisa e ela fará a sua parte, como sempre fez. Assim, ela será a escola dos sonhos de todos os alunos, pais e professores. O resto é com a polícia, com o médico, com a assistência social. O educador não aguenta mais continuar sendo visto como o carcereiro de uma sociedade libertina, vitimada pela ausência de medidas políticas, sociais e morais que a educação e a humanidade tanto clamam.
Pensando bem, acredito que o Governo do Estado de São Paulo tenha desistido da Escola dos Sonhos, já que agora ele mascara o niilismo com cartilhas que fomentam a pedagogia do nada.
Paulo Franco
Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº10 – outubro/2012