Um exército de repórteres de cinco continentes lutando para conseguir a imagem de uma bola é algo, no mínimo, planetariamente patético. E é o que assistimos, ao vivo e com direito a inúmeras reprises, neste religioso mês natalino que também é repleto de bolas e luzes e renas e neves e rezas e trenós e velhinhos ridiculamente vestidos de vermelho com a criminosa intenção de vender mais e mais Coca-Cola e outras bugigangas e enganar as crianças pobres dizendo que ao anoitecer entrarão pelas chaminés distribuindo presentes maravilhosos e realizando todos os sonhos daqueles que são esquecidos pelo lado opulento de uma sociedade capitalista e hipócrita.

          Porém, vale lembrar, por uma questão de justiça, que a nossa bola, apesar de ser apenas uma bola como qualquer outra bola, é especial porque foi inspirada nas curvas do Rio Amazonas e nas fitinhas coloridas do Senhor do Bonfim. A nossa bola, portanto, não é apenas uma jabulani. E você, caro leitor, sabe o que isso tudo significa? Não? Pois eu digo que não significa nada, mas as fitinhas milagrosas (e isso foi noticiado com ênfase) voltarão a ser fabricadas com algodão e não mais com tecido sintético. E isso também não significa nada. A imprensa não quis dizer a razão dessa importante mudança. Apenas informou que as fitinhas da Bahia,  que a gente usa para dar três nozinhos e fazer grandes pedidos que serão atendidos quando as fitinhas se desintegrarem, eram produzidas em São Paulo e agora serão arquitetadas nas proximidades do Senhor do Bonfim. E acho que isso também não significa nada. Entretanto, “é interessantíssimo, apesar de inútil” que a bola da copa e a fitinha do milagre ocupem os principais espaços dos noticiários no mesmo momento que o aumento dos combustíveis é anunciado como se fosse um presente natalino parido de alguma manjedoura.

          Mas o fato é que a Brazuca está lançada para rolar feliz nos gramados das milionárias arenas de um país que acabou de ser (des)classificado em 58º lugar em um ranking de educação que envolveu 65 países.

          Enquanto isso, na Costa do Sauípe, apenas para o sorteio de 32 brazuquinhas “politica e financeiramente organizadas”,  quase 30 milhões foram enterrados na areia para a recepção de 1500 iluminados que não percebem a escuridão na terra do berimbau e do Senhor do Bonfim. A tenda, levantada exclusivamente para o sorteio, no dia seguinte ao grandioso evento das bolinhas viciadas, já começará a ser desmontada.  E repito: “a tenda” (possivelmente dos milagres).

          A cada dia, acredito mais na ideia de que “toda propriedade excessiva é um roubo”. Será possível que essa gente tão nobre não vê que as mazelas que sofre o povo desta pátria são inúmeras e imensas? Já que querem se divertir e espantar a monotonia desta sociedade quase medieval, porque não contratam um bobo da corte? Ou será que se divertem muito mais por saberem que os bobos somos nós? E é bem provável que tudo isso aconteça exatamente porque nem mesmo tomamos conhecimento de que somos um dos piores países do mundo em educação.

 

Paulo Franco

 

Texto Publicado na Revista Mais Conteúdo – Edição nº21 – dezembro/2013 

http://jornalmaisnoticias.com.br/category/revista-conteudo


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